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Despeço-me da Revista Ultimato - Ricardo Gondim
Ricardo Gondim
Após quase vinte anos, fui convidado a “des-continuar” minha coluna na revista Ultimato. Nesta semana, recebi a visita de Elben Lenz Cesar, Marcos Bomtempo e Klênia Fassoni em meu escritório, que me deram a notícia de que não mais escreverei para a Ultimato. Nessa tarde, encerrou-se um relacionamento que, ao longo de todos esses anos, me estimulou a dividir o coração com os leitores desta boa revista. Cada texto que redigi nasceu de minhas entranhas apaixonadas.
Fui devidamente alertado pelo rev. Elben de que meus posicionamentos expostos para a revista Carta Capital trariam ainda maior tensão para a Ultimato. Respeito o corpo editorial da Ultimato por não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos homossexuais. Todavia, reafirmo minhas palavras: em um estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis.
O reverendo Elben Lenz Cesar, por quem tenho a maior estima, profundo respeito e eterna gratidão, acrescentou que discordava também sobre minha afirmação ao jornalista de que “Deus não está no controle”. Ressalto, jamais escondi minha fé no Deus que é amor e nos corolários que faço: amor e controle se contradizem. De fato, nunca aceitei a doutrina da providência como explicitada pelo calvinismo e não consigo encaixar no decreto divino: Auschwitz, Ruanda ou Realengo. Não há espaço em minhas reflexões para uma “vontade permissiva” de Deus que torne necessário o orgasmo do pedófilo ou a crueldade genocida.
Por último, a Klênia Fassoni advertiu-me de que meus Tweets, somados a outros textos que postei em meu site, deixam a ideia de que sou tempestivo e inconsequente no que comunico. Falou que a minha resposta à Carta Capital sobre a condição das igrejas na Europa passa a sensação de que sou “humanista”. Sobre meu “humanismo”, sequer desejo reagir. Acolho, porém, a recomendação da Klênia sobre minha inconsequência. Peço perdão a todos os que me leram ao longo dos anos. Quaisquer desvarios e irresponsabilidades que tenham brotado de minha pena não foram intencionais. Meu único desejo ao escrever, repito, foi enriquecer, exortar e desafiar possíveis leitores.
Resta-me agradecer à revista Ultimato por todos os anos em que caminhamos juntos. Um pedaço de minha história está amputada. Mas a própria Bíblia avisa que há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Meu amor e meu respeito pela família do rev. Elben, que compõe o corpo editorial da Ultimato, não diminuíram em nada.
Continuarei a escrever em outros veículos e a pastorear minha igreja com a mesma paixão que me motivou há 34 anos.
Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria
20-05-11
Fonte: Ricardo Gondim
Ricardo Gondim: Pastor, Pregador, Pensador, ou Herege?
Ricardo Gondim, depois de ser convidado para parar de escrever na revista Ultimato por defender a união civil homossexual, entre outras posições, escreveu uma intenção de explicar que não é um herege, ou apóstata, em seu blog.
“Faltam-me argumentos. Como explicar que não perdi a fé, que não apostatei, que não estou na ladeira do inferno e que não sou um Belzebu?” escreveu o pastor da Igreja Betesda de São Paulo.
“Tornei-me alvo de todos os crivos. Depois de devidamente rotulado, sinto-me dissecado, espiritual, moral e psicanaliticamente.”
Isso ocorreu depois que Gondim deu uma entrevista à Carta Capital em que abertamente declarou ser favorável à união civil homossexual, entre outras coisas.
O reverendo Elben Lenz Cesar, um dos responsáveis pela Revista Ultimato disse a ele não se sentir confortável com sua posição e acrescentou que também discordava com a posição de Gondim de que “Deus não está no controle,” questionando se Deus haveria de permitir os desastres como por exemplo, o terremoto e tsunami do Japão se ele estivesse realmente no controle.
“Amor e controle, se contradizem.”
Gondim confessou que não consegue se encaixar na “doutrina da providência” do calvinismo, citando outras tragédias também como a do Realegngo, Ruanda e Auschwitz.
Apesar de achar que ele deve explicações, Gondim afirmou não voltar atrás em suas posições: “permanecerei altivo em minhas colocações.” Mas antes ele acha que deve dar satisfações à sua própria consciência. “Devo trancar a porta do banheiro e, sozinho, olhar o que me espreita de dentro do espelho, e perguntar: ‘Aonde você quer chegar, cara?’”
O pastor Eros Pasquini, pastor da Igreja Batista Bereiana, em uma carta aberta sobre algumas de suas posições de Ricardo Gondim com relação ao controle de Deus, sugeriu muitas passagens da Bíblia que tratam da onipotência, e soberania de Deus que Gondim deveria ler. E parando-se para defender a doutrina diante das posições controversas de Gondim, ele urgiu aos Cristãos a não se calarem frente ao surgimento do que ele chama de neo-ortodoxia.
Ricardo alegou que não levanta a bandeira homossexual. “Ela não é minha, eu não sou homossexual.”Mas que ele defende os direitos das pessoas, sejam elas ateus, religiosos, ciganos ou deficientes. E acredita que faz isso porque “Jesus, o meu Senhor e salvador, o faria.”
O que outros Cristãos pensam disso? Muitos, os que se chamam “gondinianos” falam que ele é o “herege que a Igreja precisa,” justificando que ele é mais que um pregador, “ele é um pensador.”
“A Igreja precisa de homens como Ricardo Gondim, que não tem medo de dar a cara a tapa, que pregam uma verdade doída, mas real,” escreveu o autor do Blog Papo de Teólogo.
No mesmo blog outros comentaram que ele vai esvaziar a sua Igreja se continuar com essas posições.
“Se ele continuar com estas declarações a sua Igreja vai esvaziar,” disse Carlos Alberto em seu comentário.
Por último, Ricardo Gondim escreveu, um “hábil escritor” sugeriu que ele está em crise de fé. “Eu sei que ele confunde fé com a aceitação da doutrina calvinista,” respondeu ele.
O teólogo termina seus pensamentos afirmando que não voltar atrás em suas posições. “Deixo claro: não retrocederei, mesmo xingado. Não há como voltar; puxei um novelo de significados e sentidos e estou fascinado com os fios. Cada nova descoberta me leva para mais perto de mim, do meu próximo e de Deus. Agora vou até o fim.”
Fonte: Overbo
“Faltam-me argumentos. Como explicar que não perdi a fé, que não apostatei, que não estou na ladeira do inferno e que não sou um Belzebu?” escreveu o pastor da Igreja Betesda de São Paulo.
“Tornei-me alvo de todos os crivos. Depois de devidamente rotulado, sinto-me dissecado, espiritual, moral e psicanaliticamente.”
Isso ocorreu depois que Gondim deu uma entrevista à Carta Capital em que abertamente declarou ser favorável à união civil homossexual, entre outras coisas.
O reverendo Elben Lenz Cesar, um dos responsáveis pela Revista Ultimato disse a ele não se sentir confortável com sua posição e acrescentou que também discordava com a posição de Gondim de que “Deus não está no controle,” questionando se Deus haveria de permitir os desastres como por exemplo, o terremoto e tsunami do Japão se ele estivesse realmente no controle.
“Amor e controle, se contradizem.”
Gondim confessou que não consegue se encaixar na “doutrina da providência” do calvinismo, citando outras tragédias também como a do Realegngo, Ruanda e Auschwitz.
Apesar de achar que ele deve explicações, Gondim afirmou não voltar atrás em suas posições: “permanecerei altivo em minhas colocações.” Mas antes ele acha que deve dar satisfações à sua própria consciência. “Devo trancar a porta do banheiro e, sozinho, olhar o que me espreita de dentro do espelho, e perguntar: ‘Aonde você quer chegar, cara?’”
O pastor Eros Pasquini, pastor da Igreja Batista Bereiana, em uma carta aberta sobre algumas de suas posições de Ricardo Gondim com relação ao controle de Deus, sugeriu muitas passagens da Bíblia que tratam da onipotência, e soberania de Deus que Gondim deveria ler. E parando-se para defender a doutrina diante das posições controversas de Gondim, ele urgiu aos Cristãos a não se calarem frente ao surgimento do que ele chama de neo-ortodoxia.
Ricardo alegou que não levanta a bandeira homossexual. “Ela não é minha, eu não sou homossexual.”Mas que ele defende os direitos das pessoas, sejam elas ateus, religiosos, ciganos ou deficientes. E acredita que faz isso porque “Jesus, o meu Senhor e salvador, o faria.”
O que outros Cristãos pensam disso? Muitos, os que se chamam “gondinianos” falam que ele é o “herege que a Igreja precisa,” justificando que ele é mais que um pregador, “ele é um pensador.”
“A Igreja precisa de homens como Ricardo Gondim, que não tem medo de dar a cara a tapa, que pregam uma verdade doída, mas real,” escreveu o autor do Blog Papo de Teólogo.
No mesmo blog outros comentaram que ele vai esvaziar a sua Igreja se continuar com essas posições.
“Se ele continuar com estas declarações a sua Igreja vai esvaziar,” disse Carlos Alberto em seu comentário.
Por último, Ricardo Gondim escreveu, um “hábil escritor” sugeriu que ele está em crise de fé. “Eu sei que ele confunde fé com a aceitação da doutrina calvinista,” respondeu ele.
O teólogo termina seus pensamentos afirmando que não voltar atrás em suas posições. “Deixo claro: não retrocederei, mesmo xingado. Não há como voltar; puxei um novelo de significados e sentidos e estou fascinado com os fios. Cada nova descoberta me leva para mais perto de mim, do meu próximo e de Deus. Agora vou até o fim.”
Fonte: Overbo
SOBRE A OBSCURIDADE DA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA – Marcelo Carneiro
Em Cristo que nos une (une?). Leandro Priori.
SOBRE A OBSCURIDADE DA IGREJA EVANGÉLICA BRASILEIRA – Marcelo Carneiro
Não sou de escrever sobre a Igreja. Não por covardia ou omissão, mas por achar que precisamos olhar mais para o mundo do que para dentro. Um sintoma de nossa doença está em ficarmos olhando exclusivamente para dentro, discutindo estruturas, pensando de forma mesquinha em como somos bonitos e estamos crescendo.
Prefiro estudar a Bíblia e falar e pensar sobre os problemas do mundo, os mesmos pelos quais o Evangelho foi pregado por um galileu – Jesus Filho de José - da pequena aldeia de Nazaré, situada a 6 km de uma antiga capital, Séforis, que fez missão de forma obstinada e que, muito mais pelo amor que demonstrou do que pelas curas e milagres que fez, foi reconhecido como o Messias, Filho de Davi, o Salvador, o Príncipe da Paz, o Filho de Deus. Mas pregar sobre ele dessa forma não dá ibope, é pregação fraca; evidenciar o amor é coisa de frouxo, num mundo de espertos. Mesmo assim prefiro falar e pensar sobre os problemas do mundo à luz do Evangelho de Jesus o Cristo.
O problema é que passei os últimos dias lendo e ouvindo palavras arrebatadoras de pastores de alma, e quando olho ao redor, o uivo que ouço dos lobos vestidos de cordeiros e as fanfarronices dos ladrões e salteadores me incomodam bastante. Por isso tenho que falar.
É assim que a Igreja Evangélica está crescendo no Brasil, como uma turba desenfreada, insana, um restolho do bom senso que não aceita o diferente, que alimenta o ódio e desrespeita a todos, menos aos líderes, esses sacrossantos seres que deixaram de ser pastores para se tornarem gerentes, com títulos que vão de Pastor a Paiapóstolo. São pessoas levadas pela ganância sórdida, sem nenhuma boa vontade (1 Pd 5.2). Como Jeremias profetizou – no sentido correto do termo, em que uma pessoa analisa criticamente, à luz da vontade divina, a realidade que a cerca, e não como adivinhação ou determinação de vontade própria – contra os pastores (Jr 23) que dispersam as ovelhas, não cuidando delas. Na verdade, ele diz que tais pastores se tornaram estúpidos (Jr 10.21). Também o profeta Ezequiel afirmou: “profetiza contra os pastores de Israel”.
Questionar essa liderança é rebeldia; pensar é deixar o diabo agir; discordar é estar endemoninhado. Mas vejam, quanta ironia: não são esses os antiecumênicos, que chamam a Igreja de Roma de Anticristo, Babilônia e tantas coisas mais? Como a chamam assim, se eles agem da mesma forma que acusam-na de agir? Agem como se o ministério pastoral fosse sacerdócio sacramental; ignoram a presença leiga na Igreja, por considerar massa de manobra e apenas para suprir as “necessidades” financeiras da Igreja; admitem e incentivam as crendices mais insanas, sob o pretexto de que a libertação precisa de um processo – não no sentido de uma elaboração, de uma reflexão, mas da repetição e da forçosa presença em sete semanas de unção, sem o quê o nome de Jesus – O NOME DE JESUS! – não terá efeito. Falam em salvação pela fé, mas impõem sobre os crentes cargas pesadas de ativismo religioso, condição básica para serem salvas.
Até quando, Senhor, subsistirão tais criaturas? Sei que tenho falhas, mas a mais hedionda de todas é se fazer de superior, trazer para si a glória que pertence somente a Deus, e deixar de lado o serviço, o amor ao próximo – não é amor ao crente, por favor!!! -, a humildade. Temo que estamos gerando o Anticristo, pelo fato de alimentarmos uma atmosfera tão doentia e insalubre – foi uma atmosfera parecida que permitiu a ascensão de Hitler, na Alemanha; as conseqüências ainda estão presentes hoje.
Essa Igreja Evangélica Brasileira é suis generis: usa a tecnologia da comunicação moderna, mas pensa e age como a Igreja medieval, que acusa de ter saído da direção divina. Não sei se esse texto muda alguma coisa, mas sem dúvida o desabafo me faz bem. Na verdade fiquei pensando se devia ou não lançar esse texto, mas depois escutei a voz do bom senso: se ninguém clamar, as pedras clamarão. E para quem acha que não falei do Metodismo Brasileiro, eu digo: ele não sai de minha cabeça. E infelizmente, acho que já foi contaminado por essa praga que infestou o Brasil.
Graça e Paz. A quem quiser receber.
Fonte: http://brasilmetodista.ning.com/profiles/blog/show?id=2318185%3ABlogPost%3A133022&xgs=1&xg_source=msg_share_post – Acesso em: 18/05/11 17:20
O retorno do Santo Ofício ao Pará -
Amados irmãos, estou postando este texto com a finalidade de mostrar aos remanescentes de Juiz de Fora que esta inquisição já vem sendo maquinada há muitos anos e chega até aqui não como um movimento fraco, mas muito bem arquitetado, o autoritarismo já está totalmente implantado.
E concordo com o irmão Tony, ficar calado é compactuar com isto. Estamos assistindo este 'vencer pelo cançasso' por aqui também, pregações que são recadinhos e indiretas também estão sendo comuns para muitos de nós, bem como interferências nas escolas bíblicas e já temos visto vários irmãos desanimando desta caminhada.
Conclamo-os a seguir o exemplo de perseverança e luta dos irmãos do Pará e lembrarmo-nos das palavras do pastor Moisés (http://leandropriori.blogspot.com/2011/05/pastor-metodista-sofre-processo-de.html), bem como do irmão Tony e nos unirmos à essa ideologia em amor a Cristo, aos irmãos e à igreja Metodista.
Leandro Priori.
O retorno do Santo Ofício ao Pará
Aqui em Belém, a igreja metodista surgiu na década de 70, no bairro da Pedreira, conhecido como "o do samba e do amor", e sempre atuou junto ao povo do local (projeto de carpintaria, escola de educação infantil, presidiu o Conselho Municipal de Assistência Social, etc.), destacando-se na atuação ecumênica, inclusive foi fundadora do Conselho Amazônico de Igrejas Cristãs (CAIC).
Esta ênfase ecumênica sempre mereceu severo monitoramento das alas mais carismáticas que compunham o Colégio Episcopal, que, por sua vez, sempre pregavam que enquanto a Igreja da Pedreira adotasse esta postura da "teologia da libertação" o metodismo em Belém não teria futuro.
Então, tendo à frente o bispo Rozalino, um plano foi traçado no final da década de 90. Como não poderiam fechar a Igreja da Pedreira e iniciar do zero um novo trabalho metodista com uma outra orientação, aliaram-se a um pastor recém saído da Igreja Batista para fundar uma outra Igreja Metodista em Belém, daí nasceu a Igreja Metodista do Umarizal. O Umarizal é um bairro de classe média, bem diferente da realidade periférica da Pedreira.
A idéia era que esta nova Igreja do Umarizal, por ser mais central e ter um pastor militar que não "bebera" da teologia metodista, iria aos poucos suplantar o trabalho da Igreja da Pedreira, tornando-se a "verdadeira" referência do metodismo na cidade. Assim, a Igreja Metodista do Umarizal virou a "menina-dos- olhos" do poder metodista. Era uma "comunidade missionária a serviço do po...DER". Para lá foram destinados vários recursos e projetos. Enquanto isso na Metodista da Pedreira, até ficar sem pastor ficou.
Mas a obra não é dos homens, é de Deus. Assim, após quase dez anos de fracassos na tentativa de por fim à Igreja Metodista da Pedreira, por diversas crises internas, quem ruiu foi a abastarda Igreja Metodista do Umarizal, em plenas mãos do bispo Adolfo, já atual bispo da REMA, que, diga-se de passagem, sempre foi o bispo que mais vociferou contra a postura teológica e o histórico da Igreja Metodista da Pedreira.
Não conformado com a falência do metodismo a serviço do poder, o bispo Adolfo adotou uma nova estratégia. No início de 2008, inseriu os membros da igreja falida do Umarizal dentro da Igreja da Pedreira, provocando um desconforto imenso para os irmãos e irmãs das duas igrejas. Antes ele ainda teve a ousadia descarada de fazer a seguinte proposta: Os membros da Umarizal ficam com o prédio e a estrutura da Igreja da Pedreira e os membros da Pedreira que dão ênfase nas obras de misericórdia vão para um terreno comprado pela Igreja do Umarizal. Claro, esta proposta foi rejeitada. Hoje temos um templo e duas igrejas.
Para conduzir este "casamento arrumado", o bispo escolheu um outro pastor que também fora da Igreja Batista, trazido ao metodismo pelo pastor ex-batista que iniciou o trabalho no Umarizal. Pensaram, "agora pronto, foi dado o golpe final" no metodismo que prega a ação social, o diálogo ecumênico, a leitura dos documentos da Igreja, uma espiritualidade profunda. O próprio bispo Adolfo afirma sem nenhum pudor ou o mínimo de respeito aos irmãos e irmãs que caminham há anos no evangelho que o metodismo da Igreja da Pedreira faz parte do "deserto" do metodismo brasileiro que no último Concílio foi ultrapassado e agora chegou-se à terra prometida: ênfase no ganho de almas, no crescimento numérico e estruturação financeira da Igreja.
Bastou um ano para percebermos que este "casamento arrumado" não daria certo. Em novembro de 2008, no Concílio Local para a Avaliação da unificação das igrejas de Belém a maioria da Igreja votou pelo fim da união. Ainda mais, o Concílio pediu a urgente mudança de pastor local, relatando uma extensa lista de autoritarismos em apenas um ano de gestão. Para a surpresa de todo mundo, o bispo Adolfo desprezou a decisão da Igreja local e, bem ao seu estilo, decretou um Ato de Governo, decidindo a partir dos seus princípios de "inerrância e infalibilidade" pela continuação da pseudo-união da agora Igreja Metodista Central de Belém e permanência do atual pastor.
A intenção do bispo e de seu pastor, pupilo fiel, é fazer as irmãs e os irmãos metodistas da Pedreira "sangrarem" e chorarem até a última gota, e, assim, vencer pelo cansaço. Querem que estas pessoas saiam aos poucos da Igreja, deixando o espaço livre para a conclusão do plano iniciado na década de 90: acabar com a Igreja (pessoas, princípios, atuação, visão teológica, espiritualidade) da Pedreira. E isto eles já têm conseguido com muito mérito, visto que já se contam mais de vinte as pessoas, eu sou uma destas, que deixaram de comparecer nos cultos à noite para não se depararem mais com shows do Lázaro, expulsão de demônios, apelos absurdos e pregações que mais parecem indiretas ou recados.
Faço toda esta introdução na tentativa de mostrar o contexto em que se dá a notícia "Bispo Adolfo passará o mês de agosto em Belém". Esta visita é justificada pela necessidade de acompanhar este processo de transição forçada "do deserto para a terra prometida" e enquadrar aqueles que estejam fora desta "visão". O Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição terminou seus trabalhos no Pará há exatos 240 anos (1769), deixando um rastro de julgamentos e "Atos de Governos" baseados em fundamentalismos do Catolicismo Romano da época. A Inquisição era uma instituição da Igreja Católica Romana criada para combater quem não se alinhasse com os mandatários do poder eclesiástico e da Metrópole, estes foram acusados de hereges, de manter pacto com o diabo, de supersticiosos e de bruxos e bruxas. Falando em caça às bruxas, não podemos esquecer que estamos falando de um bispo que deixou a Igreja Metodista do Brasil num imenso constrangimento quando acusou de bruxaria uma pastora negra que desenvolvia trabalhos com mulheres carentes.
Agora teremos no mês de agosto de 2009 o Tribunal do Santo Ofício Metodista, com o bispo Adolfo acolhendo as denúncias e autuando contra aqueles e aquelas que têm resistido pela fé há anos de ataques ininterruptos. Sucumbirá enfim a Igreja Metodista da Pedreira? Não sabemos. Contudo, digo novamente, a obra não é dos homens, é de Deus. Logo, nossa esperança é que os conchavos humanos e as estratagemas do poder não resistam à coerência e a sinceridade de quem serve a Deus com ardor e alegria.
Embora com a esperança aguçada, ouso fazer este registro como um testemunho. Pois como diria Affonso Romano de Sant'Ana "o que não escrevi, calou-me". Por isso, compartilho com vocês estas doloridas palavras não por rebeldia ou insubmissão às autoridades, mas porque não agüentamos mais suportar calados. Ficar em silêncio neste caso é tornar-se cúmplice. Irmãs e irmãos do coração aquecido de todo o Brasil têm que saber o que se passa no metodismo por estas terras quentes e longínquas da Amazônia. Oração e informação, serão essas as nossas respostas às perseguições que o bispo nos impõe, mesmo sentindo a afumegação das fogueiras.
Tony Vilhena
Não se pode matar a idéia a tiros de canhão, nem tampouco acorrentá-la
Louise Michel (educadora e libertária, lutou na Comuna de Paris)
Fonte: http://metodistaconfessante.blogspot.com/2009/08/o-retorno-do-santo-oficio-ao-para.html
Pastor Metodista sofre processo de disciplina na quarta região.
Amados irmãos em Cristo Jesus, a carta aberta que posto abaixo bem como a situação que ela retrata, traz em mim além da indignação, uma identificação muito grande com o que tem passado nosso irmão Moisés que a escreve. Eu e minha família temos observado todas estas coisas acontecendo dentro da igreja e não temos encontrado uma voz que ecoe com a nossa, e uma comunidade de apoio que como nós busca um cristianismo mais singelo e amoroso, como Deus que é Amor. Ao contrário, julgamentos, exclusões, um exaltar dos títulos e cargos que deveriam significar serviço e a ditadura da maioria que não reluta em oprimir os que têm ainda pensado de forma diferente.
Leiam com atenção, aos que acompanham meu blog, que temos sido daqueles que fazem, tenho certeza muito mais do que a indignação com as injustiças e desvios que têm sido cometidos, sentiremo-nos fortalecidos por saber que um irmão tão preparado e dedicado, um líder tão amado e reconhecido por esta comunidade que também é cristã e está disposta junto com ele e conosco a dar sua vida pelo evangelho do Senhor Jesus.
Aos metodistas brasileiros,
Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando com Deus.
Gamaliel – Atos 5. 38-39
Essa circunstância, portanto, não é uma desculpa adequada para não reconhecer a obra de Deus; especialmente se consideramos que sempre aprouve a Deus realizar alguma grande obra sobre a terra, quando mesmo nos tempos mais remotos, ele saiu relativamente do modo comum; seja para excitar a atenção de um grande número de pessoas que, de outra forma, poderiam não nota-lo, seja para separar o orgulhoso e soberbo de coração daqueles de espírito humilde e singelo; os primeiros, conforme ele previu, confiando em sua própria sabedoria, tropeçariam naquela pedra e se quebrariam; ao passo que os últimos, inquirindo com sinceridade, logo reconheceriam que a obra era de Deus.
João Wesley
Prezados irmãos e irmãs,
Ao longo de 18 anos de dedicação exclusiva à Igreja Metodista, passando pela primeira e segunda designação junto às Igrejas Metodistas de Conselheiro Lafaiete – MG e Vila Galvão - SP, tendo por primeira nomeação a Igreja Metodista de Vila Planalto – SBC, seguindo-se as nomeações para as Igrejas Metodistas em Goiabeiras – ES, Central em Belo Horizonte , Benfica em Juiz de Fora, Pastoral do Instituto Metodista Granbery, Jardinópolis, e atualmente Bela Aurora, todas essas seis últimas ligadas à IV Região, sendo extremamente grato a Deus pela oportunidade de servi-lo na dimensão do Reino nestas distintas comunidades de fé, sob a orientação do Espírito Santo, sempre colocando à disposição meus dons e talentos para a equiparação do corpo de Cristo, me apresento aos metodistas brasileiros, na condição de membro da Igreja Metodista, para tecer algumas considerações sobre a dinâmica de acolhimento de irmãos e irmãs metodistas da cidade de Belém do Pará, região Norte do país.
Sei que a situação que envolveu esse acolhimento é inusitada e, talvez, tenha ocasionado alguns constrangimentos para muitas pessoas, mas, por uma razão óbvia, aprendi desde cedo, os caminhos inerentes à mística do ministério pastoral e fui ensinado pelos meus pastores o significado do apoio e acolhimento ao diferente, mesmo o muito diferente. A máxima “Pensar e deixar pensar”, tão fundamental para a dinâmica de uma Igreja conciliar, ou que se pretende conciliar, máxima esta exorcizada por muitos na atualidade, sempre serviu, pelo menos na concepção de muitos metodistas, como um paradigma para a fundamentação relacional, tão cara aos princípios mais basilares do Evangelho.
Aprendi, também, a compreender as pessoas a partir de seus pontos de vistas. Como lembra-nos Leonardo Boff: “Todo ponto de vista é apenas a vista de um ponto”. (A águia e a galinha. Petrópolis: Vozes, 2008). Nessa lógica, sempre parti da premissa que acordos e conciliações são possíveis, mesmo sabendo que essas possibilidades perpassam os caminhos ásperos e sedimentados da discussão. Os beócios preferem o caminho da ditadura e da determinação, muitas vezes traduzida pela metáfora da “visão”.
Aprendi, por fim, a respeitar os meus líderes, mesmo quando não concordava com eles. Sofri, muitas vezes, fazendo coisas que nada tinham a ver comigo. Entretanto, não quero mais fazer ou realizar coisas que não são compatíveis com o que penso em relação ao Evangelho. O abuso de poder, por parte de líderes não pode ser acolhido no coração de quem quer que seja, principalmente das pessoas ligadas ao povo chamado metodista.
O Evangelho me incita a viver outra lógica, marcada por ideais tais como: a. felicidade como resultante da perseguição por causa da justiça; b. ser último para ser primeiro; c. humilhar-se para ser exaltado; d. se tornar como criança ao invés de ser adulto na busca pelo poder; e. amar aos inimigos ao invés de persegui-los; e. perder para ganhar. Acontece que, por uma razão que me é estranha, esses princípios somente são cobrados daqueles que abraçam a fé evangélica e se dedicam voluntariamente aos princípios desta ou daquela denominação, enquanto que os líderes ficam num patamar diferenciado. Para estes, o Evangelho somente serve para os outros. Para mim, é inconcebível a ideia de um(a) pastor(a) ou bispo(a) não pedir perdão, quando de um erro ou palavra mal posta, à um(a) irmão(ã) em Cristo.
Tenho consciência de que na atualidade, líderes, visando a tranquilidade do arraial impõem sua visão e se afirmam diante da obediência dos liderados. Não poucos(as) pastores(as) têm vociferado em seus púlpitos palavras de abuso, determinando uma obediência muda para que os membros da igreja não se tornem feiticeiros, numa grotesca e fundamentalista alusão a 1 Samuel 15.23. Ao contrário disso, sempre busquei o caminho da elegância e da educação, dando minha resposta, tão somente, através da dedicação e do serviço, com os olhos fitos nos princípios da justiça, mesmo quando era derrotado em decisões conciliares ou em qualquer tipo de reunião. A vontade alheia sempre foi por mim respeitada. Aliás, somente consigo compreender a missão na Igreja e a teologia, ou o que se requer dela, na sua forma encarnada, como práxis, diaconia, serviço, conciliações, justiça e Reino. Sempre me esmerei no intuito de ser realmente pastor. De ser um companheiro e amigo nas horas das alegrias e também das dificuldades. Pastoreio, assim, as ovelhas do rebanho que não é meu, é de Deus. Visito-as e acolho-as em suas possíveis crises existenciais.
Por esses motivos apresentados, nunca me imiscui de acolher pessoas que se achegavam com o coração aberto para a transformação ou a busca por uma nova vida, uma nova aurora. Inclusive, desde o momento que aceitei o desafio de pastorear a Igreja Metodista de Bela Aurora, tive a oportunidade de acolher irmãos e irmãs de outras localidades da própria cidade de Juiz de Fora. Acolhi-os com amor, entretanto, na contramão de tudo o que aprendi, ouvi de alguns pastores expressões tais como: “Pode levar. Deus tira um e manda dez”, ou então: “Só quero aqui os que estão na visão”. Muitas vezes, tais expressões vinham acompanhadas da frase: “O Bispo deu liberdade pra gente fazer assim”, frases que expressam uma particularidade que nunca considerei e não vou considerar porque é pífia.
Dessa forma acolhi 42 membros oriundos de outras Igrejas Metodistas da cidade de Juiz de Fora e um membro da cidade de São Paulo, que no passado fora pastor metodista. Todos, muito queridos por mim. Hoje, sou grato a Deus pela oportunidade de ter essas pessoas ao meu lado. Toda essa situação fez de Bela Aurora uma Igreja atípica, bastante similar a outras comunidades presentes no Brasil. Inclusive, recentemente ouvi de algumas pessoas, cujos nomes eu não citarei, que a Igreja Metodista de Bela Aurora se tornou uma Igreja de pessoas decepcionadas ou descontentes. Uma Igreja de rebeldes. Palavras que repudio embora reconheça a veracidade da constatação. Repudio porque nesses comentários estão as verdades sem o amor cristão. Mas, por outro lado, reconheço a veracidade porque acolhi ao longo desse tempo pessoas que ficaram tristes por causa dos rumos que seus pastores deram ao kerigma cristão. Infelizmente, essas pessoas foram deslocadas de seus respectivos nichos eclesiásticos por pressão, coação, opressão, abuso religioso e indiferença dos pastores e pastoras. Paro por aqui, pois a lista ficaria elástica demais. Felizmente, estas pessoas não deixaram de ser metodistas. Elas têm sido pastoreadas por mim, até que o Senhor da vida me permita fazê-lo. E faço isso com muito esmero e dedicação, com a plena visualização de minhas particularidades, contradições e deficiências. Tenho aprendido a ser e me revelar como realmente sou, sem medo ou hipocrisia.
Confesso, entretanto, que gostaria que fosse diferente. Eu queria que estas pessoas continuassem perpetuando a alegria de celebrar junto aos(às) seus(suas) antigos(as) amigos(as) nas suas respectivas Igrejas. Esse afastamento provocou lutos outros que ainda estão sendo elaborados. Quero somente lembrar que as causas que levaram esses irmãos ao afastamento são as seguintes:
1. Uso indiscriminado de campanhas financeiras travestidas de campanhas de vitória através da oração;
2. Excesso de pregadores de distintas denominações nos púlpitos de nossas Igrejas;
3. Obrigatoriedade de participação no encontro metodista do pacto ou encontro com Deus, para exercimento de funções junto a Igreja;
4. Aceitação indiscriminada de toda e qualquer proposta ou “visão” dos(as) pastores(as). Sobre este último aspecto, é curioso notar que na atualidade, a discordância dos leigos quanto às ideias e formas dos pastores tem a ver com rebeldia. Os chamados “rebeldes” são encaminhados para a “santa inquisição metodista”. O princípio do sacerdócio universal de todos os crentes foi completamente abolido de muitas igrejas.
Ora, o problema do autoritarismo na Igreja por parte das ordens sacerdotais não é novo e já foi denunciado por Martinho Lutero. Em suas próprias palavras: “Pois daí vem essa detestável tirania dos clérigos com relação aos leigos. Confiam na unção corporal pela qual suas mãos são consagradas e, depois, na tonsura e na veste. Não só creem que são mais que os cristãos leigos, que são ungidos com o Espírito Santo, mas quase os consideram como cachorros indignos de serem enumerados juntamente com eles na Igreja. Por isso, atrevem-se a mandar, exigir, ameaçar, pressionar e espremer em todo o sentido. Resumindo: o sacramento da ordem foi e continua sendo uma maquinação belíssima para consolidar todas as monstruosidades que se cometeram e ainda se cometem na Igreja. Aqui desaparece a fraternidade cristã, aqui os pastores se transformam em lobos, os servos em tiranos, os eclesiásticos em mais que mundanos”. (Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In: Martinho Lutero: Obras Selecionadas. São Leopoldo: Sinodal, 1989, vol. 2, p. 414). Embora os(as) pastores(as) não estejam ligados(as) à ordem numa configuração sacramental, parece que se imbuem desse espírito. Ora, é evidente o fato de que existe um grande hiato eclesiológico de características medievais na Igreja atual. Numa similar linha de raciocínio, John Wesley, que num primeiro momento era extremamente zeloso, fanático e clerical para com a Igreja, após a experiência de Aldersgate, em 1738, percebeu que mais do que razões e convicções, era necessário uma busca pela dimensão soteriológica e pelo acolhimento ao outro, na dimensão do coração aquecido, em outras palavras, um coração cheio de amor e apaixonado pelas pessoas, não mais pela Igreja. Nessa perspectiva, pastores e pastoras são pessoas com funções distintas, que evidenciam no todo de seus respectivos serviços eclesiásticos, tão somente, o amor humilde aos outros. O pastor José Carlos de Souza corrobora: “Se, pelo batismo, todos os cristãos são feitos sacerdotes, não poderiam prevalecer diferenças relativas a status ou dignidade, porquanto é impossível sustentar quaisquer privilégios com base nas Escrituras ou na Igreja Antiga. A única distinção cabível repousa na diversidade de funções necessárias para que a Igreja cumpra a sua missão (cf. Rm 12 e 1 Co 12-14), porém, isso não fundamenta nenhum direito ou prerrogativa especial. A autoridade eclesiástica é serviço, assentado exclusivamente na conveniência humana e prática. A fim de evitar a desordem e o caos, a comunidade de fé escolhe aqueles que hão de exercer, em seu nome, os ofícios que, a rigor, pertencem a todos. A ordenação é apenas o rito – jamais o sacramento – pelo qual a congregação reconhece publicamente aqueles que são chamados para o cuidado pastoral e, sobretudo, para a pregação da Palavra. Contudo, a qualquer tempo, esse encargo pode ser requerido de volta, se a comunidade assim discernir”. (SOUZA, José Carlos. Leiga, Ministerial e Ecumênica. SBC: EDITEO, 2009, p. 96). Assim, somente podemos conceber o ministério pastoral na Igreja Metodista como um espelho da comunidade. As pessoas precisam se sentir representadas pelo(a) seu (sua) pastor(a). Nessa mesma linha de raciocínio, acho que não dá mais para fecharmos os olhos a essa constatação que pode alterar os rumos eclesiológicos. Torna-se imperativo a sensibilidade. Para mim, o problema eclesiológico (estrutura, episcopado, poder, governo, pastores e leigos) é o grande nó que o próximo Concílio Geral terá que desatar, se não se ater aos joguinhos inerentes às eleições dos bispos e bispas!?!?.
A propósito, tive a oportunidade de participar do último Concílio Geral e vi, ouvi, senti e, infelizmente, participei sem comungar de um dos mais atrozes momentos da história da igreja metodista em terras brasileiras. Fiquei pasmo em descobrir ali os “reais” interesses que moviam as orações e as celebrações. Eu, inclusive, tinha conversado com um bispo informando-lhe que os burburinhos pré-concílio eram terríveis e que a Igreja seria atropelada por decisões unilaterais. Sugeri até mesmo o cancelamento do Concílio, o que não foi possível. As eleições dos bispos e da bispa foram momentos de desrespeito, infâmia, discórdias, maledicência, jogo sujo... Ouvi de um bispo, em particular, o desabafo indignado em relação a pastores que, pela frente, batiam as mãos nas costas dele e por trás, queriam a sua degola.
Sempre tive posições em relação à estrutura da Igreja Metodista. Partilhei muitas com colegas pastores e pastoras. Sinalizava e clamava por mudanças, mas contava com o fato de que as coisas fossem feitas ao meio-dia e não à meia-noite. Quando percebi, junto a outros colegas, que as questões estavam tendo uma visão unilateral marcada pela injustiça e a comentários repugnantes, busquei a oposição. Decorreu disso uma série de preconceitos em relação a minha pessoa e a difamação por intermédio de várias falácias. Por exemplo, pelo fato de ter participado de uma visita a um irmão querido na cidade de Belisário, num encontro que ficou conhecido como Encontro de Belisário, recebi vários telefonemas de amigos me perguntando sobre a campanha para bispo. Espalharam que eu havia promovido o encontro para me lançar a bispo. Só se eu fosse muito burro. Se eu quisesse assim fazê-lo, iria certamente para um grande centro. Não sou de esconder as coisas. E por causa dessa falácia, meu nome figurou em uma lista nos corredores do último Concílio Regional da Igreja Metodista da IV Região, em 2009, como nome não elegível para a composição da delegação da IV Região. Por um acaso dos céus, documentos e e-mail´s caíram em minhas mãos atestando as falcatruas que ocorreram, principalmente na sala destinada à oração. Depois de ter recebido os referidos documentos, conversei com uma pessoa que participou diretamente dos fatos e ela me confirmou o acontecido. Fiquei boquiaberto.
Resolvi, então, reafirmar minha posição perante a Igreja Metodista. Posição herdada dos anos de estudos teológicos e da convivência com líderes com certos princípios éticos. Em minha concepção, existem dois tipos de homens: os que falam e os que fazem. Quero figurar entre os segundos. Chega de palavras. Quero abraçar ações que dignifiquem o ser humano.
Por estas e outras convicções de fórum estritamente pastoral, resolvi acolher os 17 irmãos e irmãs de Belém do Pará e arrola-los como membros em nossa Igreja Metodista de Bela Aurora. Informo que, além desses, ainda serão acolhidos diversos adolescentes e crianças, que ainda não professaram a fé. A abertura desse processo de acolhida se deu justamente pelo precedente que abri ao acolher o ex-pastor da Igreja Metodista que, como disse, mora em São Paulo. São todos sacerdotes. Seguiu-se, assim, a lógica de um antigo adágio mineiro: “Porteira por onde passa um boi, passa uma boiada”. Para ser mais elegante: “Por onde passa uma ovelha, passa um rebanho”, formando um novo aprisco.
Tenho a nítida clareza de que agi, insisto, num foro estritamente pastoral, numa brecha de lei canônica e numa ampla porta aberta, marcada pela (i) lógica do Evangelho de Jesus. Não fiz coisa alguma pensando em denegrir ou afrontar a imagem de quem quer que seja. Entretanto, sei que acabei apontando e denunciando o problema da autoridade, que em minha compreensão, é o calcanhar de Aquiles da Igreja atual. Ora, autoridade é fundamental para a dinâmica da práxis missionária da Igreja, mas é preciso considerar que uma autoridade somente pode ser exercida em três variáveis: pelo caminho da legalidade (que se caracteriza pela imposição da lei ou da força de coerção); pelo caminho da legitimidade (que ocorre quando uma comunidade percebe o carisma de seu líder ou pessoa responsável e legitima sua autoridade); e pelo caminho ideal, numa espécie de dialética entre legalidade e legitimidade, desde que a legitimidade seja a tônica do discurso, porque marcada pela conquista e serviço. Assim, acredito piamente que autoridade, com princípios bíblicos, é conquistada pelos caminhos relacionais na dialética de uma legalidade afirmada, posteriormente legitimada na vivência com a comunidade.
Nesse fórum pastoral, não creio ter ferido a ética. Para os que acham que a feri, pergunto: que ética? Será que alguém poderia legal e legitimamente reclamar pela ética neste momento tão complexo que vive a Igreja? Confesso que, em todo este processo, não pensei em condicionar ou ferir a ética. Ao contrário, fiz o que apontou o meu coração. Segui minhas convicções pessoais, seguindo um velho conselho de Max Weber. Aboli, por um lapso de tempo a minha ética de responsabilidade e pelo afã da ética de convicção, acolhi estes(as) irmãos(ãs) pensando no critério evangélico. Resolvi seguir um princípio apreendido nas sagradas letras que afirma: “Mas, como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações”. 1 Tessalonicenses 2.4. Pensei cá com os meus botões que o evangelho atingiria maior tonalidade mediante o grandíssimo abraço aos irmãos de Belém.
Decorreu desse abraço a formulação de uma queixa contra a minha pessoa por parte da liderança da REMA e da igreja central de Belém. A queixa questiona minha atitude, principalmente pelo fato dos(as) irmãos(ãs), que foram acolhidos por mim, estarem em disciplina. Ora, que disciplina? A que vem arbitrariamente do púlpito? A que vem como abuso do poder? Quando percebo que alguém está se desviando dos princípios da igreja ou mesmo da fé evangélica, procuro essa pessoa, vou a casa delas. Desejo ouvi-las e conciliá-las. Como se pode estabelecer disciplina eclesiástica para membros na Igreja Metodista sem os percalços canônicos? Expliquem-me, por favor!
Informo também que nos primeiros contatos com estes(as) irmãos(ãs) acolhidos(as), ficou claro para mim a perspectiva de que eles(as) não queriam ir para Igrejas Batistas ou Igrejas Presbiterianas, entre outras, mas queriam continuar membros da Igreja Metodista. Assim, assumi o acolhimento pensando em coisas estranhas que acho, não fazem mais parte do nosso convívio eclesiástico, tais como, por exemplo: unidade, conexidade, liberdade de espírito, pastoreio, entre outras.
Informo aos irmãos que trabalhei tão somente para resguardar a unidade da Igreja. Eu sei que às vésperas de um Concílio Geral, essa minha ação pastoral pode parecer ação politica para evidenciação de minha pessoa. Tenho o coração no altar e todos os mais próximos sabem muito bem que as decisões tomadas se deram por uma estrita devoção ao Evangelho.
Na prática, todas essas ações estão fazendo surgir um ponto missionário em Belém do Pará. Um meu amigo me disse que meu erro foi declarar que se tratava de um ponto missionário. Na concepção dele, se eu tivesse dito que era uma “célula”, não haveria problemas. Eu até estou pensando em abrir “células” em Belo Horizonte, em Vitória e onde estiverem metodistas decepcionados com os rumos da Igreja. Aliás, sobre este aspecto acho que vale a pena perguntar sobre que igreja que o colégio episcopal quer? Acho que o colégio deveria escrever uma carta pastoral dizendo: “queremos que os metodistas brasileiros sejam assim! Quem não concordar, sai fora”. Isso tem sido dito. Acho, sinceramente, que deveria ser escrito e posto no maravilhoso altar das cartas pastorais do colégio para a igreja.
Então, a minha ação de acolhimento, tão somente isso, não é uma ação esporádica com tonalidade puramente teórica. Como já evidenciei, o Evangelho para mim é Evangelho encarnado e, como tal, precisa ser prático seguindo a lógica do serviço. Por isso, tenho estado com o grupo mensalmente. Celebramos a Ceia do Senhor e nos apoiamos mutuamente. Pergunto-me: por que essas pessoas foram excluídas? Por que tinham que aceitar a imposição de uma visão pastoral? Por que as decisões conciliares não foram respeitadas? Por que não se pôde sentar em uma mesa para saborear uma deliciosa maniçoba ou o pato no tucupi e buscar amizades?
Mesmo diante dessas questões de ordem prática, eu estou sendo questionado em minha ação de acolhimento. Eu disse na primeira reunião da comissão de disciplina que se eu tivesse adulterado com mulheres da igreja local, ou dado um calote em estabelecimentos da cidade, ou ainda, se tivesse tido uma vida irresponsável em relação às finanças e organização da minha igreja, então eu diria estar arrependido, choraria, pediria perdão, receberia uma exortação, uma disciplina de três meses, e tudo voltaria “tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
Diante da encruzilhada em que resolvi me envolver, marcada pela dicotomia entre lei e pessoas, preferi as pessoas, preferi estar ao lado dos mais enfraquecidos. Se os sentimentos dessas pessoas fossem ao menos ouvido, certamente nada disso teria acontecido. Ora, eu não criei esta situação, somente entrei nela para, quem sabe, ajudar na resolução.
Prezados(as) irmãos(ãs), teria muito a escrever ou narrar, mas sei que os(as) senhores(as) têm mais a fazer. Quero somente finalizar dizendo que não envolvi CLAM, tampouco Concílio nessa situação. Somente conversei com os membros da Igreja e ouvi seus sentimentos. Como a Igreja possui pessoas que também foram acolhidas de forma similar, o apoio foi irrestrito e, creio, unânime. Então, a decisão foi de foro estritamente pastoral, um ato de governo pastoral. Não envolvi os membros através dos mecanismos legais que estruturam a Igreja. Assim, a responsabilidade é tão somente pastoral, embora legitimamente apoiada pelos irmãos e irmãs de Bela Aurora.
Concluo, assim, esse meu breve relato, solicitando aos(às) meus(minhas) irmãos(ãs) metodistas que se manifestem contra arbitrariedades, que denunciem os abusos de poder, que reclamem pelo genuíno Evangelho de Jesus Cristo, que busquem a justiça, que digam não ao “papismo” que afronta a simplicidade do Reino que é sempre uma dimensão modesta, de pequenas ações. Ora, quem faz a Igreja é o povo, não os(as) pastores(as), os(a) bispos(a); quem dá dízimo para a manutenção da Igreja são as pessoas de coração sincero que amam a Igreja. A Igreja precisa ser ouvida. Curioso vir à minha mente uma emblemática passagem dos Evangelhos em que o Mestre de Nazaré expressa: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou til jamais passará da Lei, ate que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”. Mateus 5. 17-20.
No amor de Cristo, Senhor da Vida,
Moisés Abdon Coppe
Membro e pastor na Igreja Metodista de Bela Aurora.
Moisés Coppe
Fonte: http://brasilmetodista.ning.com/profiles/blog/show?id=2318185%3ABlogPost%3A132478&xgs=1&xg_source=msg_share_post
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Cristianismo Cosmopolita
Por: Heidi Hadsell
Globalização é a ordem do dia... Padrões de trabalho, carreiras profissionais, aposentadorias, finanças, agricultura, educação, modelos de ministério pastoral... Todas estas áreas da vida estão sendo afetadas por relações globais das quais estamos conscientes, pelo menos em parte, porém não compreendemos completamente. A maioria dos seminários e praticamente todas as universidades estão oferecendo cursos sobre globalização, posto que cada uma das disciplinas e profissões tenha de enfrentar esta realidade. A consciência de pertencer a este mundo globalizado provoca uma variedade de reações, sem dúvida, mesmo para as pessoas que estão em posição de compreender e se beneficiar com isso.
Para algumas pessoas, quem sabe até para muitas, a consciência da mudança do nosso centro de gravidade para longe do local - e mesmo do nacional - e mais perto do internacional, estimula o impulso de buscar proteção em barreiras de controle que sejam compreensíveis, que possibilitem às pessoas continuarem a viver a sua vida da melhor maneira possível, mesmo sabendo que o terreno em que pisam é areia movediça.
Para outros, esta realidade global é vista como ocasião para tentar controlar as mudanças, ou os efeitos da mudança em nível local, e também em nível nacional. Isso se dá, freqüentemente, através da afirmação do interesse individual ou nacional, e na tentativa de impor essa perspectiva a todo mundo.
As comunidades cristãs participam em ambas as reações. Elas talvez venham a ver a igreja primeiramente como fonte de conforto e cuidado, um abrigo onde se pode contar que as coisas não mudarão muito, aonde visões de mundo e pressuposições há muito estabelecidas não são questionadas, mas afirmadas e aonde membros das congregações possam proteger-se atrás de barreiras que afastam as mudanças e os ruídos, tão predominantes em outros espaços da vida cotidiana.
Pode ser também que as igrejas e grupos cristãos tentem ser assertivos quanto a uma visão de mundo altamente simplificada. Suas narrativas da realidade, a verdade como eles vêem, passam a ser impostas a todas as pessoas, tanto interna como externamente. Assim, eles podem passar a ver os eventos políticos e militares e os processos acelerados de mudança social como uma batalha do bem absoluto contra o mal absoluto, da verdade contra as mentiras, do triunfo do certo sobre o errado. Isto é, muitas vezes, descrito como um “conflito de civilizações”.
Num mundo em que cada vez mais se pensa de maneira polarizada, talvez a coisa mais difícil para as congregações locais e as denominações seja marcar, manter um espaço e uma posição engajados na realidade global, que seja capaz de levantar a voz, ainda que queira ser apenas uma voz entre tantas outras. Que seja capaz de ser, ao mesmo tempo, um abrigo e uma ponte em relação ao mundo ao redor. Este tipo de resposta pode ser descrita como ‘cristianismo cosmopolita’, cujo padrão foi estabelecido pelo Apóstolo Paulo, com suas viagens pelo Império Romano, sua insistência de que o cristianismo não é uma fé limitada por identidades étnicas, tribais ou localizações geográficas.
Esta não é a maneira mais fácil de ser cristão, de ser cristã. É uma maneira cheia de ambigüidades. É tão desafiante quanto é reconfortante tentar compreender como a fé cristã, primeiramente contada a dois mil anos atrás, se relaciona com a vida hoje, nesta era tão diferente e tão distante daquela. Deus realmente continua falando, mas discernir qual é a fala de Deus ainda é uma grande tarefa.
Para manter esta maneira de ser cristão, de ser cristã, é preciso lançar mão de vários recursos. Existem metodologias históricas e críticas que podem ajudar a ler a Bíblia e a fazer teologia e ética. Há exemplos concretos na vida das igrejas, tanto no passado como no presente. Os cristãos podem encorajar-se mutuamente em suas próprias denominações, como entre diferentes denominações e também encontrar esperança na realidade de vida da cristandade ao redor do mundo.
O cristianismo internacional, e ecumênico, a rede de relacionamentos que o cristianismo é e possibilita, ainda que facilmente despercebido, é um recurso precioso para dar forma ao ser cristãos e cristãs ‘cosmopolitas’. A rede cristã global faz do cristianismo talvez a maior ONG do mundo e dá aos cristãos um alcance e uma extensão que o mundo da política, dos negócios e da mídia certamente tem inveja.
São muitos os desafios enfrentados pelos cristãos, aos quais eu estou chamando aqui de ‘cosmopolitas’. Discutirei três deles brevemente.
O primeiro desafio é o de renovar a vitalidade e a energia das celebrações e cultos para que outros, incluindo nossas filhas e nossos filhos, nossos netos e nossas netas, possam encontrar neles vida e significado.
Em 2007 um bispo Episcopal do norte da Nigéria esteve no Seminário Hartford, participando no programa de relações entre muçulmanos e cristãos, elaborado por líderes cristãos que vivem em diferentes lugares do mundo onde existem conflitos entre esses dois grupos. O bispo e vários outros estavam conduzindo a liturgia na capela e cabia a ele proferir o sermão. Ele se levantou e colocou-se em frente ao nosso grupo da Nova Inglaterra, por sinal grupo pequeno e humilde, e sem poder evitar o que parecia ser uma expressão de desânimo, ele confessou que estava feliz por poder pregar, mas que ele simplesmente não sabia como fazê-lo para uma congregação em que havia tão pouco barulho, tão pouca resposta e tão pouco sinal de vida.
Não é segredo que o mundo cristão mudou radicalmente nos últimos 20 anos. Mudou tanto que hoje as igrejas independentes e as principais denominações cristãs em toda a África, Ásia e América Latina estão cheias do espírito e carismáticas. Muitas com muito pouco que possa diferenciá-las em termos de música e estilo de culto de seus vizinhos carismáticos e Pentecostais. Estas igrejas são fonte de muita vitalidade e crescimento. Isto é algo que o cristianismo está experimentando em muitas partes do mundo.
Muitas vezes os liberais vêem este tipo de cristianismo com certo ceticismo, se não com evidente desprazer e condenação. É certo que há distorções do evangelho, como é encontrada no evangelho da prosperidade, e que deveriam ser confrontadas e mesmo condenadas. Todavia, muitas dessas formas de cristianismo são doadoras de vida e afirmadoras da fé. Se não as condenarmos tão rapidamente, quem sabe pode-se aprender alguma coisa com elas.
Na parede da sala de jantar do Instituto Ecumênico de Bossey, do Conselho Mundial de Igrejas, na Suíça, está pendurado um grande painel que mostra um africano carregando um bebê, sobreposto a um mapa da Europa. Esse painel foi presente de um pastor africano que foi estudante em Bossey, e que ficou espantado pela falta de entusiasmo das pessoas em serem cristãs e de participarem da fé cristã na Europa. Então, quando ele voltou ao seu país, enviou este painel de presente, representando os africanos trazendo Jesus de volta à Europa.
Eu penso que ele tem um plano. Há tanta vitalidade doadora de vida ao redor do mundo e com a qual se pode contar... O salmo diz: “Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo!” Nossos irmãos e irmãs ao redor do mundo podem ajudar-nos a fazer isso.
Relações inter-religiosas, teologias de outras religiões, éticas dessas relações são, como sabemos, um dos grandes desafios que nossas igrejas têm de encarar neste século. Eu vejo este desafio como uma benção para o cristianismo, pois assim os cristãos e as cristãs são forçados a pensar novamente sobre a sua fé e como prestar contas de sua fé em um mundo radicalmente plural, livre da rejeição e da demonização de outras religiões. Eu prevejo para pessoas cristãs cosmopolitas que relações inter-religiosas construtivas e o modo de pensar que as acompanha provocarão o renascimento da reflexão teológica por toda a parte.
Em muitos lugares do mundo são dados os passos iniciais para a aceitação da pluralidade religiosa, em nível local e internacional. Felizmente há igrejas em muitas partes do mundo que estão vivendo num ambiente de pluralidade religiosa há muitos séculos. Podemos e, de fato devemos, aprender com essas experiências, tomá-las a serio, usá-las como fonte de reflexão e crítica às nossas próprias abordagens, engajá-las no diálogo tanto sobre teologia como no diálogo sobre ética de outras religiões e a realidade da vida cotidiana em contextos inter-religiosos.
Infelizmente ouvimos muito mais sobre as más notícias das relações inter-religiosas ao redor do mundo. Isto é o que vende. Contudo, há muita boa nova e abordagens criativas das relações inter-religiosas entre cristãos e pessoas de outras religiões ao redor do mundo que são plenas de esperança e criatividade. Seguem aqui alguns pequenos exemplos:
No Seminário de Hartford temos uma disciplina obrigatória em diálogo inter-religioso.
Há algumas semanas atrás, a nossa classe foi visitar a Mesquita no final do período de jejum durante o Ramadã. Eu estava sentada ao lado de uma mulher cristã da Indonésia que estuda conosco. Assim que o Iman começou suas orações, ela começou a sussurrar as palavras junto com ele, fluentemente. Quando terminaram as orações, eu perguntei a ela como ela sabia essas orações muçulmanas em Árabe. Ela disse: “Ora, na Indonésia as escutamos 5 vezes ao dia, assim eu aprendi a conhecê-las.” E ela complementou dizendo: “Essas orações são reconfortantes para mim, elas me relembram de meu lar que está tão distante. ”.
Eu fui à Indonésia recentemente e fiquei hospedada com um casal cristão. Os dois são professores numa universidade cristã de Jacarta. Eles me contaram como, algum tempo antes de minha visita, eles estiveram trabalhando com crianças muçulmanas no seu bairro. Nos sábados as crianças apareciam com grande entusiasmo para aprender canções, jogos e outras atividades divertidas. Os pais dessas crianças ficaram preocupados, pois receavam que esses cristãos tentassem converter suas crianças ao cristianismo. Assim, num ato criativo de resolução de problemas e de construção da paz, este casal foi até a Mesquita ali perto e se ofereceu para ensinar voluntariamente aos pais e à liderança da Mesquita as dinâmicas que as crianças apreciaram tanto, para que assim, eles pudessem continuar a usá-las para ensinar as crianças muçulmanas de maneira que elas se divertissem e se mantivessem interessadas.
As orações muçulmanas que confortam a mulher cristã. Cristãos ensinando muçulmanos dinâmicas para melhor ensinar as doutrinas muçulmanas às suas crianças. Estes são pequenos exemplos, mas eles sugerem um paradigma de relações entre muçulmanos e cristãos que é de cooperação pacífica, não de hostilidade. Isso porque eles têm uma fonte de relações ecumênicas na qual basear-se e aprender coisas. Os cristãos têm a oportunidade, e a responsabilidade mesmo, de corrigir suas próprias pressuposições sobre estes relacionamentos e ajudar outros em sua própria cultura a fazer o mesmo. Em assim fazendo, eles podem ajudar comunidades cristãs ao redor do mundo a rejeitar a retórica do ódio que é terrivelmente prejudicial em tantos lugares, pois as relações pacíficas de vizinhança têm sido infectadas pela pressão da política internacional do ódio e do medo.
Um outro desafio para cristãos cosmopolitas é o de assumirem a cidadania mundial. Isto não significa que os estadunidenses, ou os brasileiros, ou os nigerianos deixem de sê-lo, mas que internalizemos o fato de que somos, quer gostemos ou não, cidadãos do mundo. Não se pode, por exemplo, pensar sobre progresso genuíno e sustentável na solução das questões ambientais de nossos dias se pensarmos segundo os limites das fronteiras nacionais. Não podemos solucionar questões como imigração com cercas, guarda de fronteira e legislação, ignorando, ao mesmo tempo, as relações econômicas internacionais, etc.
Organizações ecumênicas e internacionais, como o Conselho Mundial de Igrejas, possibilitam aos cristãos um caminho para avançar em direção à realidade e abraçar o desafio da cidadania e da responsabilidade mundial. Essas organizações possibilitam um fórum para pensar e agir em conjunto, globalmente, sobre temas como as relações econômicas mundiais, ou o meio-ambiente e, portanto, discernir juntos o caminho a seguir.
Pensar juntos globalmente é um antídoto contra o cativeiro cultural que caracteriza as nossas igrejas. A participação nessas organizações capacita pessoas a verem a si mesmas, suas pressuposições, seus estilos de vida, de uma maneira nova e aumenta a habilidade de exercer autocrítica e serem fiéis ao evangelho que proclamam.
A boa nova é que, para assumir esta perspectiva cosmopolita, cada pessoa, cada grupo, pode começar por aproveitar os recursos que já estão amplamente disponíveis através de relações ecumênicas nos lugares onde vivemos. O cristianismo ecumênico, nossa pertença comum a este vasto mundo de redes, é um convite festivo à vida abundante para todos.
Heidi Hadsell, teóloga e cientista política, presidenta do Hartford Seminary, em Hartford, Connecticut (EUA).Fonte: http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=253&cod_boletim=14&tipo=Artigo
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