Seguidores

Seita Universal distribui a unção dos milionários!

Ninguém se surpreende mais com a audácia e a falsidade doutrinária destes que se dizem cristãos e infestam os púlpitos desta seita.

Quisera se dissessem qualquer outra coisa: espíritas, mamônicos, adoradores de Baal, o que fosse! Nos poupariam da vergonha e do desejo de nos apartarmos destas suas práticas degradantes.

Como não o fazem, nos forçam a reafirmar que o sacrifício do Senhor Jesus foi definitivo e que o véu rasgado não é para ser costurado.

Que o Senhor tenha misericórdia dos que são enganados ou se deixam enganar e permitem que seus olhos sejam desviados da Cruz, para esta prosperidade comprada ao aviltante custo de suas próprias almas.

Que confortante (!) seria imaginar que um óleo tocado por milionários e consagrado neste altar de Mamôm pudesse dar aos ungidos riquezas sem fim. Fosse assim, sugeriria como o fiz no site da "arca universal", que publicou a matéria a seguir, mas sem mesma ironia, que providenciassem ao menos uma pessoa ética, de moral ilibada na referida agremiação afim de tocar em tantos barris de óleo fossem necessários para dar aos membros da Universal uma unção daquilo que mais desesperadamente necessitam.

Mas algo de positivo fica deste episódio. A verdade está exposta para quem quiser ver. Independente do valor da "ato profético" da consagração de óleo, a seita Universal deixa claro que a consagração não é nem sequer feita a Deus por servos do Senhor, mas por milionários ao Deus Mamon! Servos do dinheiro, consagrando óleo ao deus do dinheiro para o uso da massa gananciosa e cega às riquezas espirituais.

Quem nunca sonhou em ser um milionário? Quem nunca sonhou em ter iates, jatinhos, mansões, carros importados, casas na praia e muito dinheiro?

Não são poucos os livros e textos na internet que ensinam as pessoas a ficarem ricas, como por exemplo: dormir e acordar só pensando em dinheiro; não abrir mão de qualquer possibilidade de obter lucro; criar um produto exclusivo; inspirar-se nos líderes; ser original; antecipar-se às tendências, entre outros.

Porém, a realidade na vida de grande parte da população é marcada por desemprego, dívidas, restrições no nome, cheques devolvidos e humilhação.

Pensando nessas necessidades, A Igreja Universal do Reino de Deus realiza todas as segundas-feiras a “Reunião dos 318 pastores”. Durante o encontro, orações e ensinamentos são realizados com o objetivo de trazer o êxito financeiro e profissional aos participantes.

“A nação dos 318, todas as segundas-feiras, fala de promessas materiais. Abraão juntou homens nascidos do seu povo, de sua tribo e pegou esses 318 homens corajosos, valentes e foi em busca do seu sobrinho e ele venceu nove reis, ao mesmo tempo, apenas com esses homens, e recuperou tudo, inclusive seu sobrinho. Eu tenho visto muita gente conquistando nessa reunião, quem crê vai, quem não crê fica. Quem vem segunda-feira é porque pensa grande, tem visão, fé e nós suprimos a necessidade dessas pessoas com a fé que a bíblia nos apresenta. Pois, o que nós ensinamos nessa reunião é de suprema importância para o seu dia a dia”, disse o bispo.

Na última segunda-feira (2), aconteceu a “Grande Noite da Unção dos Milionários”, onde o pastor ungiu os presentes com o azeite consagrado por 7 milionários. Além disso, ele ensinou sobre a importância de não esmorecer diante dos problemas: “De repente você está cansado. Não por causa do trabalho, mas por não ver o resultado do seu trabalho. E pensa em desistir diante dos problemas. Mas, Deus lhe trouxe aqui para você reagir e lutar. Pois a vitória é certa”, explicou.


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2010/08/seita-universal-distribui-uncao-dos.html#ixzz0xkU1BzOT

Templos Sólidos & Igrejas Liquidas

Por: Gedeon Freire de Alencar

Ano passado estando em Belo Horizonte, por ocasião de um congresso acadêmico, fugi três noites seguidas das sessões. Na quarta-feira, fui à Igreja Caverna do Adulão, constituída por um grupo de heavy metal; na quinta-feira, visitei a Igreja Batista da Lagoinha, participando do Culto dos Motociclistas; finalmente, na sexta-feira, estive na Igreja Batista da Floresta, por ocasião da realização da Vigília do Rancho dos Profetas. Em todos cultos houve louvor, mensagem, ofertório, apelo, ou seja, uma liturgia básica e padrão de qualquer outra igreja com culto normal. O que diferenciava, então, estes grupos nesses cultos? O público. A freguesia em suas peculiaridades de vestimentas, estilos, interesses e ênfases. Enfim, o tribalismo urbano. Essa é, provavelmente, a nova dimensão eclesiológica mais original: igrejas segmentadas de tribos urbanas.
O que são tribos urbanas? Michael Maffesoli, em seu livro O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades pós-modernas (1985,) conceitua, genericamente, as tribos urbanas assim: são abertas, exclusivas e instáveis; contestatórias e passivas. Marcadas por uma contracultura underground, constituem-se numa forma de cultura alternativa ou marginal: contra a cultura familiar e religiosa padrão (no mundo ocidental, principalmente); movimentos típicos de contestação social dos jovens, com consumo de drogas, sexo livre (pós pílula); cultura anárquica (na acepção política) contra o sistema capitalista burguês consumista. Em busca de (alguma) utopia. A objetivação é a construção da (nova) identidade: vestuário, música, ideologia, esportes, dialetos, espaços urbanos. Dentre outros, temos os seguintes grupos: emos, clubbers, drag queens, cults, góticos, grafiteiros, grunges, hyppes, metaleiros, pagodeiros, patricinhas e mauricinhos, rappers, roqueiros, skinkeads, surfistas, baladeiros, nerds, regueiros, playboys, punks, rastafáris.
Com esta compreensão do ambiente social urbano como contexto, nos reportaremos, especificamente, a nossa questão central: a relação entre templos e igrejas. Ou seja, constatamos agora a prevalência, de forma inexorável, de uma nova forma de ser igreja. Esta nova delimitação eclesiástica apresenta as seguintes características:
Primeiro, anteriormente, a delimitação dos templos era absolutamente geográfica. Daí, a designação de paróquia e diocese como elemento fundante de nossas igrejas: estas eram formadas por gente que morava próximo ao templo, por isso, então, a paróquia. A nova delimitação eclesiológica, atualmente, não mais diz respeito a sua localização geográfica, mas a sua estrutura, ou seja, o templo hoje é avaliado se tem sanitário, berçário, bebedouro, acústica, bom visual e, nas grandes cidades, principalmente, estacionamento!
Segundo, a identidade de uma igreja era percebida pela Bíblia usada e pelo louvor. Antigamente sabíamos quem era quem pelo tipo de versão da Bíblia que usava: a Bíblia Trinitariana, a versão de Scofield, a versão traduzida por João Ferreira de Almeida ou Revista e Corrigida ou Revista e Atualizada. A identificação também se dava pelos hinários usados: se Cantor Cristão, era da Igreja Batista; se Harpa Cristã, era da Assembléia de Deus; se Salmos e Hinos, era da família Presbiteriana e, assim por diante. Agora a “nova identidade bíblica” é, convenhamos, customizada: Bíblia do Homem, Bíblia da Mulher, Bíblia do/as Menino/as, Bíblia Teen, Bíblia de Vitória Financeira (e, como digo em sala de aula, de vitória financeira para quem vende...), e mais um subproduto, a mais nova Bíblia da Mulher Vitoriosa. Também tivemos uma grande mudança no louvor. Saíram os hinários tradicionais e, agora, como evangélicos globalizados, em todas as igrejas se cantam o que todos cantam em todos os lugares, ou seja, as mesmas músicas. Ademais, para fazer sucesso o hit parade gospel, obrigatoriamente, precisa ter algumas palavras-chave comuns a todos os grupos: chuva, paixão, adoração, restituição, etc. Afinal, parece que o maior critério de validação de um “louvor” é o caixa.
Terceiro, uma nova delimitação social dos grupos. Mas, antes de falarmos nas novas “tribos gospel”, lembremos que, mesmo nos ambientes tradicionais, ocorrem combinações esdrúxulas e inimagináveis. Existem atualmente batistas presbiterianos, presbiterianos congregacionais, pentecostais episcopais (no modismo “apostólico”), assembleianos renovados pentecostais, luteranos pentecostais e até os inusitados evangélicos esotéricos[2]. Mas também temos as chamadas “Igrejas Alternativas”. Vou apenas citar, admitindo que alguns dos nomes e grupos que aparecem merecem uma analise muito mais acurada do que a simples citação. Existe hoje um grupo anárquico chamado de Espiritualidade Libertária (sem templo, mas com reuniões na calçada do centro cultural de São Paulo). O movimento Tribal Generation, presente hoje em diversos países. Ajuntamento das Tribos (um movimento underground de missões urbanas). Há até uma inusitada denominação evangélica que nega ser denominação. Não é uma igreja é apenas um Caminho da Graça. Ironicamente, é a negação institucionalizada da instituição.
Enfim, nossas igrejas podem até mudar muito e serem cada dia mais “liquidas”, já os templos continuam bem sólidos. Aliás, mais do que templos, agora estamos na fase do “catedrismo”. Ricos, temos, cada vez mais, grandes e fabulosos templos! Afinal, é a imagem e a eficiência de um shopping, com estacionamento, grife, bebedouro que traz o cliente para consumir. Perdão, louvar! Já as doutrinas, fatalmente estão gasosas. Daí, para acompanhar o processo químico, chegamos às “Igrejas líquidas”.
Usando a teorização de Zygmunt Bauman (2007), em Vida Líquida, e também em Modernidade Líquida, a realidade social em sua forma macro e as relações pessoais em uma relação micro, têm, dentre outras, as seguintes características: estrutura difusa, produção e produtos com validade datada, obsolescência de dados, falta de regulamentação e perenização das relações, morte das utopias, relações fluídas, que correm e escorrem sem obstáculos, ausência de peso e densidade, etc. Na sociedade líquida, como na realidade virtual tudo é fácil, simples, rápido, mas sobretudo descartável. Fluído, enfim, líquido. A “liquefação dos laços sociais” é a marca fundamental.
Não estamos, portanto, nesta realidade social, também produzindo uma “igreja líquida”? Nem pior nem melhor que nossa própria época, apenas um reflexo da realidade? Além do exposto, vejamos algumas considerações finais um tanto aleatórias:
• O tribalismo fluído. A realidade eclesiológica para além da transcendentalidade espacial e temporal, no seu novo modelo tribalizado, também é afetada pela mistura das tribos. Ou seja, as tribos são também intercambiáveis. Como no comercial do Mcdonalds, os clientes são diferenciados, mas estão misturados. Algo típico de uma praça de alimentação de um shopping. Juntos, mas visceralmente distintos. Os membros de diferentes tribos se encontram e se misturam nos espaços de diversão, escolar, familiar, esportivo, etc., por que não, também, nos espaços religiosos?
• Mais uma peculiaridade de nosso tempo: hoje temos templo ANTES da igreja. Isso valoriza mais o espaço que as relações comunitárias; é o estilo das pessoas quem conta de fato, muito mais do que as próprias. “A proximidade não exige mais a proximidade física; e a contiguidade física não determina mais a proximidade” (Bauman, 2007:14)
• “Igreja franquia”: uma denominação/estilo que alcançou o país em poucos anos. Modelo administrativo, estilo de louvor, esquema de arrecadação, etc. É um modelo de racionalização econômica para dar (mais) lucro ao seu(s) idealizador(es).
• Quanto o carro interfere em nossa eclesiologia? Por razões óbvias, nossas igrejas nas grandes cidades, ou mais pessoalmente, os membros de nossas igrejas, só se reúnem - quando conseguem - uma vez por semana. O conceito de igreja, povo convocado, já teria, a partir da questão do tempo, de ser refeito. Ademais, o povo que se reúne localmente, não mais vive localmente, na região da paróquia. Por que as pessoas – de carro. – vêm a esta igreja/templo e não aos mais próximos de suas residências? As pessoas modernas não sabem fazer nada se não for de carro. Alguém precisa aprofundar esta questão: a profunda alteração que o automobilismo produziu na eclesiologia.
• O interesse do grupo/tribo, ou mais particularmente o interesse imediato de cada individuo, é o elemento principal de definição da escolha da religião. Em síntese, é isso o que o sociólogo Rodney Stark (2008:207) diz em seu livro, Uma teoria da religião. Escolhe-se uma religião a partir de um cálculo entre custos e benefícios. “Os seres humanos buscam o que percebem ser recompensas e evitam o que percebem ser custos”.

Gedeon Freire de Alencar - Doutorando em Ciências da Religião, PUC-SP. Diretor Pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos – ICEC de S. Paulo.
Fonte: http://www.koinonia.org.br/tpdigital/detalhes.asp?cod_artigo=380&cod_boletim=21&tipo=Artigo
[2]Elementos pagãos, fechamentos de chacras, processo de cura interior, unção de lugares e objetos, etc.

Brasil, Estado laico?


 * Por Leandro Priori
             
           Sou contrário à ostentação de símbolos que representem qualquer manifestação ou credo religioso em áreas que deveriam pertencer a todo e qualquer cidadão, ou que estes deveriam sentir-se como sendo verdadeiros representados naquele local com total imparcialidade e isenção, ou, onde deveriam manifestar sua liberdade de religião e crença e exercitar sua tolerância; ou, como queira, áreas públicas. Porque são do Estado, um Estado de Direito e Democrático. E o Estado não deveria ser o sujeito da fé, instituições e aí se inclui o Estado, não podem “ter fé”, mas podem promovê-la ou manifestá-la, através de seus agentes e mecanismos. E, sendo laico pela sua Constituição, deveria respeitar a diversidade de crenças de cada cidadão, estes sim com direito a manifestar sua liberdade religiosa sem a influência ou interferência do Estado. Mas o que se vê não é exatamente esta isenção. A neutralidade do Estado é posta em cheque quando observamos a clara escolha por esta ou “aquela” religião como a preferida. Aliás, quando falamos dos referidos símbolos, falamos de crucifixos nos tribunais, câmaras, prefeituras e palácios, de imagens de esculturas (predominantemente católicos romanos) espalhados pelos hospitais públicos, pelas escolas públicas, praças e etc.
            É preciso refletir sim quando vemos o senhor Ives Gandra Martins dizendo:
         
          “O certo, todavia, é que se faz necessário, de uma vez por todas, deixar clara uma coisa: ‘Estado laico’ não significa que aquele que não acredita em Deus tenha direito de impor sua maneira de ser, de opinar e de defender a democracia”.[1]  

            E talvez concordar e lembrar que a recíproca pode ser verdadeira e que os que crêem em estátuas, crucifixos e num Estado atrelado à religião que outrora foi a oficial, a única permitida e opressora, continuem exteriorizando esta “maneira de ser, de opinar e de defender a democracia”. Desde que não mexam nos seus símbolos, desde que no Estado continue na prática a se demonstrar simbolicamente a fé na “religião estatal”. Até porque religião e Estado são sim perfeitamente unificados para estes religiosos especificamente, uma vez que o Vaticano é visto como um Estado-Religioso e o Papa é considerado chefe de Estado. Não podemos é assistir pacificamente o nosso país manter viva uma injustiça praticada por séculos, onde se favorecia ou preferia um e se proibia e perseguia o outro.
            Defendo aqui, não a ausência de Deus no Estado - afinal sou cristão - mas que cada cidadão tenha o direito de se sentir em um Estado imparcial, que não apresenta com tanta clareza sua “preferência” religiosa.
            Que nossas crianças, quando entrarem numa escola pública, não se sintam diferentes da “maioria” porque, logo ali na entrada, existe uma estátua enorme que diz respeito à fé que oprimiu seus pais, num tempo de perseguição e opressão. E que se sintam livres para aprender a expressar a forma que crêem e a respeitar seus colegas que também podem se expressar assim, individualmente, sem o favorecimento de nossas instituições públicas. Que os responsáveis por ensinar estes padrões religiosos ético-morais, sejam a família, as instituições religiosas e sua própria consciência e direito de escolha. Que o Estado, como instituição, reconheça não ser um agente de favorecimento religioso, por mais ética e boa que seja a religião ‘preferida’.
            Que um judeu, muçulmano, ou qualquer cidadão que professe qualquer fé, ou que não a professe. Quando se assentar em frente a um juiz para ouvir a sua sentença após seu julgamento, possa se sentir em um Estado realmente laico, e não que esteja diante de símbolos religiosos, quaisquer que sejam, e que possam levantar em seu coração, a influência que esta preferência do Estado pode ter tido em seu julgamento.
            Vejo ainda protestantes, que ao invés de desejarem um Estado isento, almejam fazer parte do mesmo, e achando que os fins justificariam os meios, quando conseguem uma pequena abertura neste poder, perdem a noção de que Deus transforma os corações, e que as instituições, mesmo sendo formadas por pessoas, são destituídas de coração. Os corações que ali co-habitam, cada um deles pertence a um ser individual e Deus os conhece pessoalmente, não com essa consciência coletiva. Esquecemos que o poder exercido desta forma, não raras vezes é ato de exclusão. E vemos então notícias e leis como estas:
1) “Um projeto aprovado pelos deputados da Assembléia Legislativa da Paraíba fará com que antes de cada sessão os parlamentares tenham cinco minutos para ‘refletir sobre a Bíblia’”[2]
2) Artigo 46 do Regimento da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) de 1987/1988, que dispõe: “A Bíblia Sagrada deverá ficar sobre a mesa da Assembléia Nacional Constituinte, à disposição de quem dela quiser fazer uso”.
            Oportunidade para refletirmos como, na menor abertura, queremos sobrepujar o outro. Diante de uma pequena chance pensamos em tirar as imagens, mas colocar nossas Bíblias. É um poder que corrompe e repito, exclui. E os direitos individuais não podem ser suprimidos em nome de uma “democracia”, senão criaremos sempre uma minoria oprimida.
            Se para termos a leve sensação de espiritualidade, de temor a uma divindade, ou de ética e de princípios morais elevados, precisamos de crucifixos, de estátuas, ou de livros abertos que simbolizem estas coisas, nestes corações já não habita o Senhor Jesus, filho de um Deus Pai que “procura adoradores em espírito e em verdade”, “que não habita em templos feitos por mãos humanas”, “que não tinha beleza nem formosura”, de um Deus que “É o que É”. Estes princípios, e sensações e espiritualidade nascem no interior, não pode haver nada externo que nos remeta a estas coisas senão é idolatria. Mas falando de direito, é forma de oprimir; não gera vida, mata.

Leandro Priori.



Bibliografia:
- Bíblia de Jerusalém. Edição de 1998 - Revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p
- CAVALCANTI, Robinson. Cristianismo e política. Teoria bíblica e prática histórica. Viçosa: Ultimato, 2002. 288p.
- FRESTON, Paul. Religião e política, sim. Igreja e Estado, não. Os evangélicos e a participação política. Viçosa: Ultimato, 2006. 200p.
- NUNES, Dimas. A igreja e as leis. Brasilia: Lerban - Livraria Editora Renovação Batista Nacional, 2005. 126p.
- Artigo de Ives Gandra Martins.  Jornal do Brasil – 02/01/2007.
acesso em 10/08/2009.
- Regimento da Assembléia Nacional Constituinte (ANC) de 1987/1988.



[1] Artigo de Ives Gandra Martins.  Jornal do Brasil – 02/01/2007

Por que persiste a Igreja-poder?

Artigo de Leonardo Boff *


Vou abordar um tema incômodo, mas incontornável: como pode a instituição-Igreja, como a descrevi num artigo anterior, com características autoritárias, absolutistas e excludentes se perpetuar na história? A ideologia dominante responde: "só porque é divina". Na verdade, este exercício de poder não tem nada de divino. Era o que Jesus exatamente não queria. Ele queria a hierodulia (sagrado serviço) e não a hierarquia (sagrado poder). Mas esta se impôs através dos tempos.

Instituições autoritárias possuem uma mesma lógica de autoreprodução. Não é diferente com a Igreja-instituição. Em primeiro lugar, ela se julga a única verdadeira e tira o título de "igreja" a todas as demais. Em seguida cria-se um rigoroso enquadramento: um pensamento único, uma única dogmática, um único catecismo, um único direito canônico, uma única forma de liturgia. Não se tolera a crítica nem a criatividade, vistas como negação ou denunciadas como criadoras de uma Igreja paralela ou de um outro magistério.

Em segundo lugar, se usa a violência simbólica do controle, da repressão e da punição, não raro à custa dos direitos humanos. Facilmente o questionador é marginalizado, nega-se-lhe o direito de pregar, de escrever e de atuar na comunidade. O então Card. Joseph Ratzinger, Presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, em seu mandato, puniu mais de cem teólogos. Nesta mesma lógica, pecados e crimes dos sacerdotes pedófilos ou outros delitos, como os financeiros, são mantidos ocultos para não prejudicar o bom nome da Igreja, sem o menor sentido de justiça para com as vítimas inocentes.

Em terceiro lugar, mitificam-se e quase idolatram-se as autoridades eclesiásticas principalmente o Papa que é o "doce Cristo na Terra". Penso eu lá com meus botões: que doce Cristo representava o Papa Sérgio (904), assassino de seus dois predecessores ou o Papa João XII (955), eleito com a idade de 20 anos, adúltero e morto pelo marido traído ou, pior, o Papa Bento IX (1033), eleito com 15 anos de idade, um dos mais criminosos e indignos da história do papado, chegando a vender a dignidade papal por 1000 liras de prata?

Em quarto lugar, canonizam-se figuras cujas virtudes se enquadram no sistema, como a obediência cega, a contínua exaltação das autoridades e o "sentir com a Igreja (hierarquia)", bem no estilo fascista segundo o qual "o chefe (o ducce, o Führer) sempre tem razão".

Em quinto lugar, há pessoas e cristãos com natureza autoritária, que acima de tudo apreciam a ordem, a lei e o princípio de autoridade em detrimento da lógica complexa da vida que tem surpresas e exige tolerância e adaptações. Estes secundam esse tipo de Igreja bem como regimes políticos autoritários e ditatoriais. Aliás, há uma estreita afinidade entre os regimes ditatoriais e a Igreja-poder como se viu com os ditadores Franco, Salazar, Mussolini, Pinochet e outros. Padres conservadores são facilmente feitos bispos e bispos fidelíssimos a Roma são promovidos, fomentando a subserviência. Esse bloco histórico-social-religioso se cristalizou e garantiu a continuidade a este tipo de Igreja.

Em sexto lugar, a Igreja-poder sabe do valor dos ritos e símbolos pois reforçam identidades conservadoras, pouco zelando por seus conteúdos, contanto que sejam mantidos inalteráveis e estritamente observados.

Em razão desta rigidez dogmática e canônica, a Igreja-instituição não é vivida como lar espiritual. Muitos emigram. Dizem sim ao cristianismo e não à Igreja-poder com a qual não se identificam. Dão-se conta das distorções feitas à herança de Jesus que pregou a liberdade e exaltou o amor incondicional.

Não obstante estas patologias, possuímos figuras como o Papa João XXIII, Dom Helder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luiz Flávio Cappio e outros que não reproduzem o estilo autoritário, nem apresentam-se como autoridades eclesiásticas mas como pastores no meio do Povo de Deus. Apesar destas contradições, há um mérito que importa reconhecer: esse tipo autoritário de Igreja nunca deixou de nos legar os evangelhos, mesmo negando-os na prática, e assim permitindo-nos o acesso à mensagem revolucionária do Nazareno. Ela prega a libertação mas geralmente são outros que libertam.

* Teólogo, filósofo e escritor

Fonte: Grupo Ecumenico JF