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Jesus com vergonha de ser chamado de Jesus


Já faz algum tempo que o nome de Jesus já não é mais o mesmo. Pois é, aliás, infelizmente, desde Constantino que o nome "Jesus" vem perdendo significado e respeito. Antes de você me chamar de herege ou desrespeitoso, saiba que eu não falo do Nome que é sobre todo nome, o qual, um dia, toda língua confessará como Senhor, o Nome proclamado com poder e autoridade pelos apóstolos do Novo Testamento, diante do qual os poderes malignos tremem e se dissipam até hoje. Não falo do Nome anunciado como libertação por mudos e ouvido por surdos, não se trata do Nome Eterno do cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e que independe da conjunção correta das vogais e consoantes.

Que fique bem claro! Não estou falando do Nome que transcende o nome histórico ou cultural de "Jesus". O Nome do Verbo de Deus é irretocável, não há como ser mal interpretado, distorcido ou distanciado do Nome do Deus Conosco, Príncipe da Paz, Maravilhoso, Deus Forte e Conselheiro visto que este Nome faz efeito é no coração dos que crêem e não em suas cordas vocais.

Entretanto, é preciso entender que existe Jesus e "Jesuses"... o primeiro é Senhor de todas as coisas, até mesmo das nossas vontades, levou sobre si as nossas dores, enfermidades e pecados. O castigo que nos trás a Paz foi posto sobre Ele, apesar dele mesmo não ter cometido nenhum mal ou pecado... este orou por seus inimigos e os abençoou, ensinou o perdão e o amor incondicional. Se ofereceu como fiador e resgatador das nossas dívidas de sangue, mesmo sendo, nós, ainda pecadores e maus, sem merecimento algum. O Jesus, Senhor, ensinou a dar de graça o que recebemos de graça. E por graça, misericórdia e bondade Dele nos salvou quando expôs os principados e as potestades ao vexame de serem subjugados e vencidos por Ele, em Sua morte inocente na cruz.

Mas existem os "Jesuses" proclamados e "evangelizados" mundo afora que, não obstante seus nomes serem escritos e pronunciados com as mesmas letras que compõem o nome histórico de Jesus, nada tem a ver com o Nome de Jesus, Senhor dos senhores.

O Jesus que pede oferta para abençoar, curar, prosperar ou livrar do "devorador" não é o mesmo Jesus anunciado pelo nosso irmão e apóstolo Pedro, na entrada do templo, ao paralítico que, de um salto, se pôs em pé pelo poder do Nome do Senhor.

Há quem insista em fazer de Jesus um deus pedinte, mesquinho e barganhador, um deus nada misericordioso, que ama somente na medida em que é amado e servido por aqueles "da fé" ou da "visão", que despreza os que não sabem pronunciar seu nome corretamente ou não se desgastam em sacrifícios intermináveis de campanhas, atos proféticos e propósitos puramente humanos.

Sim! O Jesus Senhor, tem vergonha de ser confundido com o Jesus das multidões, das massas de manobra, do mercado do Jesus Gospel, da moda e das fábricas de "levitas" e "ungidos" que proclamam com os pulmões cheios de emoção o nome do Jesus Show e o Jesus Curandeiro ou Exorcista, que fazem o que fazem não para anunciar a chegada do Reino de Deus, mas para lucrar e construir o seu reino particular de mansões nada celestiais.

O próprio Senhor nos preveniu dos "Jesuses" que viriam em seu nome: "Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?

Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade." (Mateus 7.22-23)

O Jesus simples do Evangelho, não pode ser confundido com o Jesus que ensina a obtenção egoísta dos bens de consumo, da ostentação e acúmulo de tesouros onde a traça e a ferrugem destroem, dos templos de mármore e ouro construídos na areia das vaidades de alguns dos modernos "apóstolos", "missionários", "sacerdotes" e "pastores".

O Jesus, Palavra da Vida, não é dobrado pelos decretos do homem, não é convencido pelo muito falar, não é "profetizável" de acordo com a vontade do homem, mesmo que este seja um "homem de Deus", mas o Jesus Senhor é galardoador de todos os que o buscam com gratidão e consciência da boa notícia de que já está tudo pago e que é tudo de graça agora, para qualquer um.

Não é difícil diferenciar o Jesus, Pão da Vida, do Jesus que vive do pão, do dinheiro depositado no altar não com gratidão, mas como bolsa de valores. O Jesus da Verdade ensina que a vontade soberana é sempre de Deus e não dos caprichos humanos. O Jesus Vivo não é o Jesus da religião, do templo ou do proselitismo institucional, político e eleitoral, mas sim o Jesus que tem as chaves da morte e do inferno, que tem as Palavras de Vida Eterna.

Não digo estas coisas afim de ofender ninguém, pelo contrário! Minha oração é para que aqueles que falam em nome deste Jesus poste-ídolo, arrependam-se e creiam no Evangelho genuinamente enquanto há tempo, pois "Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.

E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme." (2 Pedro 2.1-3)

O Jesus, Verdadeiro Deus, não é o Jesus Mitra ou Maytreia, não é o Jesus restrito ao Cristianismo somente, não é o Jesus Acusador ou Exterminador dos infiéis. O Jesus, Consolador, é o caminho de volta para Deus sem preço, sem mistério, sem magia, sem véus, em qualquer tempo ou lugar, até mesmo onde não se conhece o nome Jesus, mas se confessa na vida o Nome sobre todo o nome do Jesus Senhor.

O Deus que tem o Nome sobre todo o nome te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!



Fonte: http://www.ovelhamagra.blogspot.com/
O Haiti e a "maldição africana" (José do Carmo da Silva, o Zé do Egito)


Hoje pela manhã, eu e minha filha revíamos o vídeo onde George Samuel Antoine quebrava todas as leis da “diplomacia” ao comentar o terremoto de 7 graus na escala Richter que atingiu o Haiti, país mais pobre das Américas, na última terça-feira, dia 12 de janeiro. George Samuel Antoine é Cônsul do Haiti no Brasil, e numa entrevista veiculada pelo SBT, Sistema Brasileiro de Televisão, apontou como possível causa do terremoto certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o Cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado.

Após ver o vídeo, deparei-me com outro artigo sobre o terremoto que tem causado comoção mundial, onde o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson explica as "desgraças" haitianas como sendo conseqüência de "pactos" ocorridos há duzentos anos entre os haitianos e o demônio.

Naquele momento lembrei-me do tempo da Faculdade de Teologia.

Não que lá eu tenha ouvido besteiras tamanhas, mas porque, ao fazer as pesquisas para um capitulo de meu TCC sobre os aspectos teológicos usados pela Igreja Cristã para legitimar a escravidão negra, cheguei a entrar em crise.

Entrei em crise ao ler sobre tantas desgraças feitas, em nome de Deus, por pessoas que diziam acreditar Nele, sendo seus representantes, alegando até mesmo serem “cabeças visíveis” do Corpo de Jesus, a Igreja. Minha crise foi com os homens que diziam representar Deus e não com Deus, portanto minha fé abalou-se, mas não pereceu.

Ao estudar os materiais coletados para a Monografia, eu passava horas meditando sobre que tipo de espírito movia os teólogos que disseminaram o pensamento expresso no comentário infeliz do Cônsul sobre os africanos.

Ao rever o vídeo, não o censurei, pois o que ele disse não é exclusivamente fruto do pensar dele, antes, é fruto de sua crença, daquilo que aprendeu ou ouviu de algum religioso, pois as malfazejas palavras dele se baseiam em argumentos que no passado foram defendidos pela Igreja Cristã para legitimar a escravidão negra. Eduardo Hoornaert afirma:

O texto de Gênesis 9 pode ser chamado o texto “gerador” da ideologia escravista cristã. Ele se desdobrou, durante a história da teologia e especialmente da patrística em numerosas reflexões, comentários, elucubrações, tendo como finalidade justificar a existência da escravidão como instituição dentro do próprio corpo cristão. [...] Na cultura cristã, a famosa maldição de Cam e de Canaã se tornou uma espécie de artigo de fé, um arsenal de armas ideológicas cuja capacidade de alvo supera de longe a dos arsenais de guerra mais sofisticados, e que está longe de ser desmantelado nos dias que correm.

A prova de que a Igreja Cristã cria que os negros eram os herdeiros da maldição lançada por Noé sobre Cam, evidencia-se numa oração em favor da conversão ao catolicismo dos povos da África Central. Tal oração, que parte da Secretaria da Sagrada Congregação das Indulgências, Roma, em 12 de novembro de 1873, convida os católicos a rezarem assim:

“Rezemos pelos povos muito miseráveis da África Central que constituem a décima parte do gênero humano, para que Deus onipotente finalmente tire de seus corações a maldição de Cam e lhes dê a benção que só podem conseguir em Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor: Senhor Jesus Cristo, único Salvador de todo gênero humano, que já reinais de mar a mar e do rio até os confins da terra, abre com benevolência o seu sacratíssimo coração mesmo às almas mui miseráveis da África, que até agora encontram-se nas trevas e nas sombras da morte, para que pela intercessão da puríssima Virgem Maria, tua mãe imaculada, e de São José, tendo abandonado os ídolos, os etíopes se prostrem diante de Ti e sejam agregados à tua santa Igreja.”

É justo ser imparcial aqui, esclarecendo que tais argumentos também foram usados pelos cristãos protestantes, para fazerem uso da mão-de-obra escrava negra.

Sem querer polemizar, mas, sendo sincero no que eu creio, eu penso e estou escrevendo, quero tecer alguns comentários sobre o demônio e seus instrumentos humanos e estruturais.

Inicio dizendo que é muito fácil satanizar os outros, vendo sempre o diabo naquilo e naqueles que são diferentes, fechando os olhos para a ação do mal no meio de nossos sistemas religiosos os quais divinizamos. Portanto, olharei para dentro de minha religião cristã, a fim de resgatar fatos históricos, que pessoalmente interpreto como situações, onde cristãos atuaram como protagonistas, servindo a causa do mal.

Salvo no satanismo declarado, a luz das Escrituras sagradas de quaisquer religiões, o demônio é sempre o portador de opressão e escravidão.

Assim sendo, não negando a pessoalidade dele, para os judeus dos dias de Jesus de Nazaré, o maligno era o Império Romano e suas Legiões.

Para os povos que habitavam as Américas os “demônios” chegavam deslizando sobre as águas em suas imponentes naus. Eram portugueses, eram espanhóis, como no caso de nossa tão sofrida América Latina.

Os astecas, só depois de verem muitos dos seus mortos, se deram conta que os espanhóis não eram deuses, embora falassem e batizassem em nome de um Deus.

A História nos mostra que, na colonização das Américas, o “demônio” se personificou na escravidão, opressão e morte, experimentadas em grandes escalas pelos nativos, depois do contato com aqueles que traziam a "cruz" e o "credo".

Ou seja, na visão dos povos colonizados, tidos pelos europeus como "bárbaros pagãos" o mal sempre veio junto com os ditos "civilizados cristãos".

Ver tanto mal causado em nome de Cristo, que só pregou, viveu e morreu pelo bem da humanidade, me deixou em crise, mas, buscando refúgio na oração e na meditação das Escrituras, com a graça de Deus pude superá-la. E minhas leituras da Bíblia e da História me convenceram definitivamente que, não fora o Espírito Santo a força motriz de tantas desgraças, mas, sim, a ambição, o preconceito, o racismo e acima de tudo, o amor ao dinheiro, raiz de todos os males da humanidade.

O amor ao dinheiro e ao poder dele derivado fazem surgir ditadores de todos os matizes, ou seja, independente da cor da tez, o espírito ditatorial historicamente possuiu desde ao alemão Adolf Hitler até o negro ugandense Idi Amin Dada Oumee, conhecido como: "O talhante de Kampala", "senhor do horror" e "o carniceiro da África".

Estima-se que Idi Amim Dada, que se manteve no poder de 1971 a 1979, tenha matado entre 300 mil a meio milhão de pessoas durante o seu regime ditatorial.

O Haiti, ou ao menos, fragmentos dele, "e infelizmente do que há de pior nele", tornou-se bem conhecido do povo brasileiro, desde que o Brasil aceitou comandar a missão militar da ONU enviando 1200 soldados para ocupá-lo, numa forma de ajuda humanitária.

Atualmente o país tem tido espaço na mídia mundial, devido ao terremoto que matou dezenas de milhares de pessoas, inclusive militares brasileiros e a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança.

Talvez o que pouquíssimas pessoas saibam é que o Haiti fulgura na História como a primeira nação americana que se viu livre da mais execrável vilania que já se viu debaixo do céu. A existência da sofrida população haitiana esta ligada à história da escravidão, à luta e libertação dela. Libertação que veio através da revolta dos negros escravizados. E, é por terem obtido a vitória numa revoltosa luta pela liberdade que Pat Robertson declara que o diabo ajudou aos negros haitianos.

Contrariando Pat Robertson, julgando por aquilo que está em Êxodo capítulo três, a Divindade que se coloca ao lado dos escravos é Deus, não o demônio. O demônio está do lado do opressor, personificado em Faraó e seus magos, que fazem de tudo para manter o povo sob o jugo da escravidão.

Deus se opõe à escravidão, pois ela tira o que existe de mais sagrado para o ser humano, a liberdade. Pela liberdade o ser humano é capaz tanto de matar, como de morrer. Tal qual muitos escravos faziam, optando pelo suicídio como fuga da escravidão.

A escravidão citada pela Bíblia é totalmente diferente da imposta aos povos africanos pelos europeus, diferindo-se também da escravidão que existia entre tribos africanas.

Deus não amaldiçoou aos negros, ao contrário do "racista-cinio" do Cônsul haitiano, George Samuel Antoine, Javé os amou! Amor expresso nesta declaração: “Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes?” (Amós 9.7).

Creio que, quem estava ao lado, ou a frente dos negros haitianos na rebelião que levou à libertação, era Deus e não o Maligno. Veja um trecho da história da revolução haitiana:

O ano de 2004 marca o bicentenário da maior revolta de escravos da história, que conseguiu de forma genial derrotar os mais poderosos exércitos da época: francês, inglês e espanhol. Genial, porque aproveitou a experiência militar dos negros trazidos da África para trabalharem até a morte como escravos na “Pérola das Antilhas”, a mais lucrativa colônia da época. Usando técnicas de guerrilha, entre 1791 e 1804 o exército de libertação liderado por Toussaint e Dessalines fustigou incessantemente as forças regulares das potências colonialistas até obter a vitória, na maior epopéia de libertação jamais vista pela Europa. A Revolução Haitiana foi feita pelos haitianos, mas sua vitória pertence a todos os povos, por demonstrar, no alvorecer do século XIX, a possibilidade real de derrotar um inimigo várias vezes mais poderoso. Dessa forma, os haitianos destruíram o mito da invencibilidade da Europa, e deram o exemplo para as lutas de libertação nas colônias da América Latina.

O exemplo de liberdade não poderia sobreviver impunemente: por mais de 60 anos os Estados Unidos impuseram bloqueio econômico ao Haiti, e a França impôs pesadas compensações pela perda da lucrativa colônia, estrangulando a economia do pequeno e recém-criado país. O Haiti foi a primeira nação americana livre da escravidão. Nesses dois séculos desde a independência, a ilha foi alvo dos interesses colonialistas e imperialistas, sendo ocupada pelos Estados Unidos entre 1915 e 1934, levando à morte milhares de haitianos.

Entre 1957 e 1986 as ditaduras de Papa Doc e Baby Doc espalharam o terror e resultaram em revolta popular. Em 1990, defendendo um programa de governo popular, o ex-padre Jean-Bertrand Aristide foi eleito com 70 % dos votos, para ser deposto por golpe militar apoiado pelos Estados Unidos em 1991.

De volta em 1994, agora com o apoio dos EUA, e com posições políticas pró-imperialistas, Aristide governou com o apoio de milícias armadas. Porém, devido à forte oposição popular, a situação tornou-se insuportável.”

Argumento que: se considerarmos que os escravistas eram cristãos que diziam crer em Deus, e tomando a sério a explicação de Pat Robertson de que os negros se aliaram ao diabo para conseguirem a liberdade, somos obrigados a acreditar que Deus pela primeira vez na história perdeu para o diabo, pois como acima citado no alvorecer do século XIX, o povo haitiano derrotou um inimigo infinitamente mais poderoso do que eles.

Eu prefiro acreditar que a vitória foi possível por estar Deus ao lado dos oprimidos e não dos opressores, isto independente da religião deles. E que a atual miséria do Haiti se deve ao abandono e embargos impostos pelas nações que anteriormente exploraram o país e os escravos.

Quanto ao terremoto, acredito que qualquer país que esteja situado sobre as bordas de placas tectônicas, independente do credo religioso que professe, está sujeito a ser atingido por um terremoto.

Se os povos do Haiti fossem brancos, teriam feito até filmes sobre a revolução que lhes concedeu a liberdade, e tal vitória seria creditada à ajuda de Deus, mas como é um país majoritariamente negro, é mais fácil, explicar a vitória e as desgraças lá ocorridas como frutos de pactos demoníacos.

Penso que o diabo é um ser pessoal, inteligente, que atua no mundo, mas, muito mais do agir em e através de pessoas, sua maldade possui alcance maior quando ele se apossa de estruturas, ideologias e instituições. E sua ideologia preferida tem sido a racista, que tem causado milhares de conflitos e mortes ao longo da História.

Infelizmente, a História e as vigentes injustiças decorrentes da escravidão impedem nosso silêncio sobre a questão negra, pois a ideologia racista deixou suas marcas satânicas até mesmo dentro da Igreja Cristã. Sim, até mesmo igrejas podem ser usadas pelo mal! Pois, serve ao diabo toda igreja cuja pregação aliena, escraviza, impede a pessoa de crescer e de desenvolver o seu pensar. Toda igreja que se coloca ao lado dos poderosos deste mundo traiu o Evangelho, negou a fé, se tornando pior do que os infiéis.

Religião que não incentiva o saber e crescer humano é instrumento do mal, pois o diabo é o principal interessado em manter as pessoas na ignorância. Igreja que não incentiva o saber, buscando unir piedade vital e ciência, não proclama a Boa Nova de Jesus, pois o Evangelho de Cristo é libertador e não aprisionador.

Toda vez que uma religião oprime, mata, discrimina, usando do poder político para se expandir, deixa de servir a Deus, passando a ser útil, ainda que inconscientemente, àquele que é o oposto de Jesus Cristo e pregando o oposto à verdade, o oposto do amor, o oposto da justiça e da paz.

Relacionar o africano a maldição é desconhecer as Escrituras, aceitando de forma acrítica interpretações teológicas distorcidas que serviram aos interesses escravistas que se firmaram na Europa com as Grandes Navegações e a descoberta dos chamados “Novos Mundos”. É demonstrar ignorância quanto ao Cristianismo de Matriz Afro, muito mais antigo que o Europeu, e que permanece mais puro do que o catolicismo e protestantismo europeu.

Concluo dizendo que: minha leitura bíblica me diz que o demônio escraviza, mostrando-me que ele veio para roubar, matar e destruir. Com base nesse meu pensar eu gostaria de lembrar ao Cônsul, ao Pat Robertson e a outros que pensem igualmente a eles, que, quem praticou roubos, morticínios e destruições de culturas e civilizações inteiras com maior eficácia e freqüência foram os chamados colonizadores europeus.

Além desse lembrete, deixo as seguintes indagações:

Se o diabo veio para roubar, matar e destruir: qual o espírito que se movia na cristandade, nas Cruzadas, inquisições, colonizações e outras atitudes que mataram a milhares de pessoas?

Sendo assim, quem se aproxima mais de ligações com o diabo? Os dominados, ou seus dominadores?

Qual espírito que se movia nas Igrejas alemãs, que as levaram ao silêncio ou apoio ao nazismo? Excetuando o pastor Dietrich Bonhoeffer e os outros defensores da Igreja Confessional, que se opuseram ao regime de Adolf Hitler e por isso foram ferozmente perseguidos pelo nazismo.

Se o ocorrido no Haiti foi devido a “pactos satânicos”, como explicar então desastres naturais ocorridos em países cristãos, tais como, Brasil, EUA, Inglaterra e etc.?

Nas infelizes palavras do Cônsul, cujo pensar é semelhante ao de inúmeros cristãos, podemos ver que a interpretação teológica causadora da desgraça de um continente inteiro e dos africanos na diáspora forçada, ainda está viva e latente como mantenedora da discriminação étnica que leva a exclusão social e ao preconceito religioso em relação ao povo negro.

É por causa de declarações como as de Pat Robertson e do Cônsul haitiano que teólogos comprometidos com a verdade, justiça e a paz não podem se calar! Pois, se no passado usaram e ainda hoje usam a teologia como instrumento de alienação e discriminação, é nosso dever cristão, por fidelidade ao Evangelho, usá-la em favor da conscientização e libertação.

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Fontes: HOORNAERT, Eduardo. O negro e a Bíblia: um clamor de justiça. A leitura da Bíblia em relação à escravidão negra no Brasil - colônia (um inventário) Petrópolis: Vozes, 1988.

Fonte: http://metodistaecumenico.blogspot.com/2010/02/o-haiti-e-maldicao-africana-jose-do.html